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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1996 Kathryn Ross

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um pai inesperado, n.º 392 - outubro 2018

Título original: The Unexpected Father

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-137-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Quando Samantha descobriu que estava grávida, quase nem conseguiu acreditar; mas depois de ter recuperado da surpresa, sentiu-se extremamente feliz e ficou excitadíssima. Embora soubesse que um bebé poderia mudar radicalmente as suas vidas, nem por um segundo lhe passou pela cabeça que o marido pudesse reagir de uma forma tão diferente da sua, ao tomar conhecimento da notícia.

Mesmo agora, numa cama de hospital, num estado semi-inconsciente, sentia-se magoada ao recordar a sua reacção. O seu casamento tinha sido como uma louca aventura, com alguns momentos difíceis, mas nada a tinha preparado para a verdade, nem sequer todas as inseguranças pelas quais o seu amor por Ben tinha passado.

Ben simplesmente não a amava. O destino tinha-lhe pregado uma partida muito cruel ao descobri-lo precisamente naquele momento, quando estava grávida de três meses.

Ligeiramente confusa, sabia que alguém pronunciava o seu nome repetidas vezes, mas sentia-se demasiado cansada para abrir os olhos; só lhe apetecia dormir, dormir para se esquecer de tudo. A bomba que tinha rebentado no hospital poderia tê-la ferido e machucado, mas isso não era nada comparado com a dor que lhe destroçava o coração.

Abriu os olhos, fechando-os imediatamente a seguir e viu um homem de pé, ao seu lado; não passava de uma vaga imagem, de uma ténue sombra.

– Ben? – murmurou o seu nome e a sua própria voz pareceu-lhe estranha. – Ben?

Alguém chamou uma enfermeira; não era a voz de Ben.

Samantha fechou os olhos, sentindo-se demasiado fraca para pensar em outra coisa.

 

 

Quando voltou a abrir os olhos, sentiu-se como se estivesse perdida no meio de um intenso nevoeiro. Depois, pouco a pouco, as coisas começaram a ficar mais claras e viu a enfermeira Roberts, que a olhava com uma expressão preocupada.

– Como é que te sentes? – perguntou-lhe num tom suave.

Samantha demorou algum tempo a responder, pois parecia não ter forças para falar.

– Como se um comboio tivesse passado por cima de mim – acabou por murmurar, desviando o olhar. Reconheceu a unidade de cuidados intensivos, onde trabalhava há já dois anos, embora naquele momento a estivesse a ver de uma perspectiva completamente diferente. Tentou sentar-se, mas gemeu ao sentir uma dor que lhe percorria o corpo todo.

– Não te movas – a enfermeira Roberts pôs-lhe a mão no ombro delicadamente.

– Acho que não o consigo fazer – retorquiu Samantha e olhou para a enfermeira, ansiosa. – Ainda estou grávida, não estou? O… o bebé está bem? – susteve a respiração, enquanto esperava pela resposta.

– Maravilhosamente bem… és uma mulher cheia de sorte.

A jovem sentiu um enorme alívio. Se anteriormente Ben tinha conseguido contagiá-la com as suas dúvidas, ao pôr em causa o que ela realmente pretendia fazer com aquele bebé, agora não havia mais lugar para incertezas. Queria tê-lo do fundo do seu coração; era o que mais desejava.

– Tenta descansar um pouco – aconselhou-a a enfermeira, ao ver uma lágrima a deslizar-lhe pelo rosto. – Estás gravemente ferida, mas dentro de pouco tempo vais ficar como nova.

Samantha abanou a cabeça, irrequieta. Ainda conseguia ouvir os tiros à distância… um barulho que raramente se ouvia na pacata e longínqua cidade africana de Chuanga. Durante quatro anos, a guerra civil tinha transtornado profundamente a vida daquela pequena cidade de Nuangar. Samantha estava ali há dois anos e meio, a trabalhar para um departamento de cooperação, mas ainda não se tinha habituado àquele ambiente.

– O que é que se passou? – indagou quase sem se ouvir, ao recordar o ataque directo que o hospital tinha sofrido, o primeiro do género. – Lembro-me de ter saído da sala a correr e de ter seguido pelo corredor fora e, nesse preciso momento, dá-se uma explosão… – a sua voz tremeu ao visualizar a cena. – Quantas pessoas é que morreram…? Onde é que está Ben…? Está… bem, num lugar seguro?

– Mais tarde falaremos de Ben… quando te sentires melhor.

Ao olhar fixamente para a mulher, Samantha teve uma sensação esquisita, como se uma mão fria e húmida lhe estivesse a esmagar o coração. Já era enfermeira há alguns anos, por isso, era capaz de reconhecer a expressão dos olhos da sua colega e a mensagem contida no seu tom de voz.

– Ben morreu, não foi?

A enfermeira hesitou, antes de responder com toda a sinceridade:

– O impacto da explosão deu-se na sala onde se encontrava a trabalhar, Sam… Não sofreu nada.

Por um momento, Samantha pareceu revelar uma grande coragem ao receber a notícia, mas depois sentiu uma dor muito forte.

 

 

Josh observava atentamente a mulher que dormia. Havia algo em Samantha Walker que o intrigava. Não sabia dizer o que era, mas podia ser o seu aspecto vulnerável, a sua beleza frágil, quase indecifrável…

Deslizou o olhar pela sua pele branquinha, que contrastava de uma forma surpreendente com o seu cabelo preto, que contornava o seu rosto oval. Tinha umas pestanas pretas incrivelmente compridas; uns lábios macios e ligeiramente rosados. A dormir parecia uma criança, desamparada e indefesa.

Samantha mexeu-se e murmurou algo sem nexo. De repente, olhou para ele.

Josh reparou que tinha os olhos azuis claros; o seu olhar reflectia a imensa confusão que sentia dentro de si.

– Ben? – sussurrou, sonolenta.

– Chamo-me Josh – corrigiu-a num tom de voz suave. – Josh Hamilton.

Samantha fechou os olhos e, por um segundo, o homem pensou que ia adormecer outra vez. Por isso, ficou admirado quando, após breves minutos de silêncio, ela lhe falou com clareza, embora num certo tom de gozo.

– Oh, é o senhor.

– Não há necessidade alguma de se sentir tão decepcionada – declarou, conciso.

– Está a querer dizer que me devia sentir agradecida? – Samantha era incapaz de disfarçar a angústia que brotava do seu interior; sem saber porquê, tinha uma sensação estranha em relação àquele homem, uma antipatia inexplicável. Só o tinha visto uma vez, momentos antes de ter rebentado a bomba que destruiu parte do hospital. De acordo com o que a sua colega Roberts lhe dissera, tinha arriscado a sua vida para a salvar. Isso significava que lhe devia umas palavras de agradecimento.

– Não vim aqui à procura da sua gratidão – retorquiu bruscamente. – Só queria saber se estava bem. Pensei que pelo menos devia isso a Ben.

Samantha arrependeu-se do que dissera e olhou-o.

– Peço desculpa… sinceramente agradeço-lhe o que fez por mim.

– Já lhe disse, não vim aqui para isso.

A jovem olhou para o seu cabelo escuro e para as feições rígidas e severas do seu rosto bronzeado. Apercebeu-se da tonalidade verde dos seus olhos e de que era alto, esbelto e musculoso. Parecia o exemplar perfeito do tipo de homem duro e viril. Provavelmente o que a fazia ficar tão irritada, era aquela aparente força e segurança que demonstrava.

– A enfermeira disse-me que me veio visitar quase todos os dias – afirmou, afastando o cabelo do rosto com um movimento débil e cansado. – Será que não tinha nada melhor para fazer? – perguntou-se se não teria sido demasiado rude com ele. A intenção não era essa; o problema era que a presença de Josh Hamilton parecia perturbá-la. Sentia-se envergonhada ao pensar que se tinha sentado ao seu lado, durante os últimos dias, vendo-a dormir; não lhe agradava nada a ideia de a ter estado a observar no momento em que se sentia mais vulnerável. – Achava que o senhor era um jornalista muito ocupado, ansioso por sair deste lugar o mais depressa possível.

– E sou – confirmou, sorrindo com tristeza. – Deveria ter saído de Chuanga a semana passada – levantou a mão esquerda, que estava ligada. – Infelizmente isto atrasou a minha partida.

– Como é que fez isso?

Samantha fez um esforço por se sentar na cama e ele levantou-se para lhe colocar a almofada atrás das costas. Aquela súbita proximidade fê-la retrair-se imediatamente; foi uma reacção impulsiva, que não conseguiu controlar.

– Está mais cómoda? – Josh voltou a sentar-se ao seu lado, como se não se tivesse apercebido do seu gesto.

– Estou, obrigada – a sua voz soou ligeiramente trémula e quando, por um segundo, os seus olhos se encontraram, desviou rapidamente o olhar. Por alguma razão que desconhecia, aquele homem deixava-a tensa e nervosa. – Bem, o senhor… o senhor ia-me contar como é que se feriu na mão. Foi na altura da explosão no hospital? – obrigou-se a prosseguir.

Josh hesitou. Poderia dizer-lhe que aquilo aconteceu quando abriu caminho por entre os escombros do corredor do hospital para a salvar; no entanto, encolhendo os ombros, respondeu:

– Não… Não tive nem um arranhão – sorriu e acrescentou em tom de gozo: – Fiz isto quando jogava ao braço de ferro com a enfermeira Roberts…

Samantha não sorriu; tinha a sensação de que nunca mais se voltaria a rir.

– Ainda não consigo compreender como é que alguém pôde ser tão malvado, ao ponto de atacar um hospital.

– Isso está para além da compreensão de qualquer ser humano – Josh hesitou, antes de prosseguir. – Foi terrível o que aconteceu com Ben – declarou num tom suave.

A jovem fechou os olhos. Não se sentia com forças para falar de Ben, ainda não… e muito menos com Josh Hamilton.

– Samantha?

– Estou bem – afirmou ela, mudando rapidamente de assunto. – Se não o tivesse feito perder tempo naquela tarde, lá na sala, neste momento poderia estar em Salanga.

– Talvez, quem sabe – sorriu, irónico. – Apercebi-me de que estava em apuros assim que a vi. Não tinha outra hipótese, a não ser seguir os meus instintos.

 

 

Por breves instantes, Samantha lembrou-se do pesadelo que vivera naquela tarde. Josh era mais um dos pacientes que se encontravam na sua sala. Ficara ferido quando regressava a Chuanga, uma vez que o comboio em que viajava tinha sido alvo de um ataque. Felizmente saíra ileso, apresentando apenas um ligeiro ferimento na cabeça.

Lembrava-se de que se tinha chateado bastante com ele, dadas as circunstâncias. Vestido da cabeça aos pés, sentara-se à beira da cama e dissera-lhe que estava cheio de pressa para sair dali, pois tinha de entregar a sua reportagem num espaço de tempo muito curto. Samantha não estava muito preocupada com o facto e disse-lho abertamente, sem rodeios.

Nessa altura, estava completamente esgotada; tinha uma sala repleta de pacientes, o pessoal era escasso e sentia uma dor muito forte no estômago. Não sabia se era por causa da gravidez ou se por aquilo que o marido lhe dissera naquela manhã, que o casamento deles tinha acabado definitivamente. Fosse por que razão fosse, ficara com a impressão de que Josh era tudo o que lhe faltava para esgotar a pouquíssima paciência que ainda lhe restava.

Para além disso, a outra enfermeira que fazia o turno com ela, parecia estar muito longe do seu estado de saturação, pois tinha-se dedicado a cortejá-lo descaradamente. Mesmo agora, ao lembrar-se da cena, ainda corava de vergonha. Joanne decidira deixar bem claro que se sentia atraída por ele e Josh divertira-se imenso com a situação, como se estivesse habituado a que as mulheres se atirassem nos seus braços.

Foi então que Samantha os enfrentou e lhes disse que se tivesse um cubo de gelo à mão, ter-lhes-ia atirado com ele à cara. Joanne mostrara-se extremamente incomodada e Josh limitara-se a rir, olhando-a com visível satisfação e dizendo em seguida:

– Já alguém lhe disse que esses seus modos tão frios são irresistivelmente sexys?

Samantha viu logo que estava a gozar com ela e corou de fúria.

– E já alguém, algum dia, lhe disse que há regras mínimas de decência e que o senhor as ultrapassou?

– Quer dizer que a ofendi – Josh mostrou-se incrivelmente sereno. – Olhe, quanto mais depressa me tratar do ferimento que tenho na testa, mais depressa sairei daqui e lhe desaparecerei da vista – piscou-lhe o olho. – O que é que acha da ideia?

– Lamento imenso, mas por mais agressivo que se mostre, não vou permitir que passe à frente de toda aquela fila de gente que está ali à espera. Tanto Joanne como eu temos muitas pessoas para atender – Samantha olhou para a colega de uma forma incisiva. – O senhor Hamilton vai ter de se conformar e esperar a sua vez…

– O senhor Hamilton vai-se embora – interrompeu-a Josh, determinado. – Nunca gostei de filas.

Angustiada, a jovem reparou que começava a juntar as suas coisas, para se retirar.

– De qualquer forma, antes de me ir embora, quero falar com Ben Walker.

– Para que é que quer falar com o senhor Walker? – perguntou-lhe ela, franzindo o sobrolho.

– Somos velhos amigos – baixou-se para calçar os sapatos. – Não se preocupe, não me vou queixar de si – acrescentou, bem-humorado.

– Não estou nada preocupada com isso – custava-lhe a acreditar que pudesse sentir uma antipatia tão grande por um desconhecido. – Em primeiro lugar, porque estou a desempenhar muito bem as minhas funções e, em segundo, porque o doutor Walker é meu marido.

Então, pela primeira vez, Josh fixou-se na aliança que trazia no dedo anelar da mão esquerda.

– Nunca me disse que era casado. Esta manhã, falei com ele ao telefone durante meia hora e não me falou de si nem uma só vez.

Se a situação fosse outra, Samantha ter-se-ia desatado a rir. Era uma pessoa generosa e bem-humorada, normalmente gostava muito de dar uma boa gargalhada. No entanto, o que acontecera entre ela e o marido, naquela manhã, tinha mudado tudo. Não podia dizer que a atitude do marido a tivesse surpreendido, mas apesar de tudo, sentia-se magoada por não ter feito qualquer comentário a seu respeito.

– Bem, ele também nunca me falou de si – murmurou num tom áspero.

– Ben sempre teve muito bom gosto ao escolher as suas mulheres – Josh voltou a olhá-la de uma forma descaradamente sedutora. – Embora nunca me tivesse passado pela cabeça que um dia se casasse. Não sabia que se integrava nesse grupo de homens.

Aquelas palavras incomodaram-na de uma maneira insuportável e, de repente, sentiu uma vontade incrível de chorar. Porém, disse para consigo que era ridículo reagir dessa forma; na realidade, nem sequer tinha chorado quando Ben lhe dissera que o casamento tinha acabado.

 

 

No entanto, naquele momento, deitada na cama do hospital, sentiu uma vontade louca de desatar a chorar, ao recordar as palavras de Josh. Respirou bem fundo. Devia esforçar-se por raciocinar com coerência. Tinha decisões a tomar; decisões que eram extremamente difíceis e dolorosas. Virou-se para a mesinha que estava ao seu lado, tentando alcançar o copo de água.

Ao aperceber-se da situação, Josh adiantou-se e pegou no copo.

– Obrigada – tossiu ligeiramente, procurando desfazer o nó que sentia na garganta.

Roçou os dedos nos dele, ao pegar no copo que lhe estendia. Os seus olhos encontraram-se por breves segundos e Samantha desviou rapidamente o olhar.

Achava aquele homem extremamente misterioso. Não o conseguia compreender. Era óbvio que se estava a mostrar amável, porque sentia pena dela e porque Ben era seu amigo. Porém, a jovem não queria a compaixão de ninguém e muito menos a de Josh Hamilton. A mão tremeu-lhe ao pegar no copo; ele continuava a segurar-lho, como se fosse um adulto a ajudar uma criança. Sentia uma certa aversão misturada com gratidão e esses sentimentos, aparentemente contraditórios, deixavam-na submersa num mar de confusões.

Depois de beber uns goles, voltou a acomodar-se na cama. Nesse momento, uma jovem enfermeira passou ao seu lado e sorriu para Josh, com uma expressão provocante. Samantha reparou que ele lhe retribuía o olhar de uma forma particularmente sedutora.

– Não permita que seja eu a retê-lo aqui – murmurou, chateada. – Tenho a certeza de que tem coisas muito melhores para fazer.

– Devo interpretar isso como uma indirecta para me ir embora? – indagou, sarcástico.

– Se quiser…

– Está bem – levantou-se. – Desejo-lhe as rápidas melhoras.

Samantha ia a replicar algo, no preciso momento em que a enfermeira Roberts entrou na sala e a observou, mostrando-se preocupada com a intensa palidez que transparecia no seu rosto.

– Então, como é que se encontra hoje a minha doente predilecta? – perguntou-lhe amavelmente.

– Não muito mal – respondeu, encolhendo os ombros. – Quando é que me posso levantar? Estou-me a começar a sentir como se tivesse criado raízes nesta cama.

– Só estás aqui há três dias – retorquiu a enfermeira, abanando a cabeça. – Precisas de descansar, Sam.

– O que preciso é de regressar ao trabalho. Deves ter pouco pessoal.

– Temos dado conta do recado sem qualquer problema – garantiu-lhe Roberts.

– Bem – começou Josh a dizer, afastando-se da cama, – vou deixar as damas conversarem à vontade – olhou para Samantha e sorriu-lhe. – Vemo-nos mais tarde.

– É um grande homem – comentou a enfermeira Roberts e sentou-se na cadeira, anteriormente ocupada por Josh. – Deve ter um sangue frio impressionante, a avaliar pela forma como se meteu por entre os escombros do corredor do hospital, para te salvar. Quando o fez, o tecto ainda estava a cair aos pedaços.

– Foi nessa altura que feriu o braço?

Roberts respondeu afirmativamente. Pelo canto do olho, Samantha viu-o a falar com a colega que lhe sorrira ao passar. Logo a seguir, apareceu Joanne Kelly e, quando ele lhes disse algo, as duas desataram-se a rir.

– Não há dúvida alguma de que goza de grande sucesso entre o pessoal que se encontra de plantão – declarou a jovem num tom áspero, que foi incapaz de disfarçar.

– Suponho que sim – comentou a outra, apreciando-as por cima do ombro. – De qualquer forma, não vim aqui para falar contigo de Josh Hamilton. Pensei que talvez estivesses preparada para falar de algo que quero que faças.

– O que é? – Samantha ficou nervosa.

– Quero que voltes para casa, Sam – respondeu a mulher num tom afável. – Não estás em condições de continuar a trabalhar. Estás ferida e…

– Grávida. Uma combinação fatal – replicou, amargurada.

– O que te estava a tentar dizer é que, por um tempo, precisas de tranquilidade e de descanso – concluiu a enfermeira, sorrindo. – Tens um lar, uma família que esteja à tua espera, em Inglaterra?

– Queres dizer que me estás a mandar embora de Chuanga? – o tom de Samantha era suave, quase parecia uma adolescente a falar. – E eu que acreditava que era imprescindível, insubstituível…

– Vá lá, Sam! – exclamou Roberts, abanando a cabeça. – Tens de pensar no bebé. Sabes perfeitamente que não podes ficar aqui. Já conversámos sobre esse assunto. Para além disso, já andavas a fazer planos para te ires embora… não?

– Sim, é verdade – confirmou e fechou os olhos. Sim, tinha de ser sincera, no entanto, não tinha tido tempo para fazer qualquer plano; estivera demasiado ocupada, pensando no marido, no facto de não ter querido que ela tivesse aquele bebé. – Tu… não contaste a ninguém que estou grávida, não é verdade? – inquiriu subitamente, olhando-a, ansiosa pela resposta.

– Só ao teu médico… embora tenha de fazer um relatório para os serviços centrais, Sam.

Aquilo já era de esperar, pensou, mas mesmo assim, sentiu um aperto no coração, vendo-a afastar-se. Pelo menos iria ser melhor para o bebé, tentou agarrar-se ao lado positivo das coisas. Se estivesse ali, era natural que Ben se tivesse sentido decepcionado com a notícia.

Do outro lado da sala, podia ver Josh encostado à entrada da porta, com uma expressão apática, ouvindo com atenção algo que Joanne lhe contava. Samantha pensou que era um homem muito atraente. A sua presença parecia dominar a pequena sala, irradiando poder e vibrações fortes e estimulantes.

Perguntou a si própria o que é que Joanne lhe poderia estar a contar, para que ambos estivessem com uma expressão tão séria. Josh parecia muito interessado no assunto e olhava-a sem sequer pestanejar. Samantha suspirou e virou-se para o outro lado, para não os ver. Sentia-se agradecida por Josh a ter socorrido, mas continuava a não gostar dele. Era demasiado arrogante, demasiado seguro de si mesmo. E, para cúmulo, era provável que fosse um mulherengo. Um homem que se divertia imenso a destroçar corações.

Ben tinha-lhe destroçado o coração. Ficou a olhar fixamente para a parede, tentando não pensar no marido. Não fazia sentido continuar a analisar a sua relação. Se queria ser sincera, era obrigada a reconhecer que o seu casamento tinha sido um erro desde o início. Tinha-se esforçado ao máximo por o salvar, mas Ben tinha acabado por matar os sentimentos que ele próprio lhe inspirara, com a sua atitude fria, quase indiferente. Manifestou o que realmente sentia, quando lhe revelou que estava grávida. «Desfaz-te desse bebé», dissera-lhe de uma forma pertinente, sem a menor hesitação. Estremecia só em pensar nisso.

Ben estava morto e Samantha sofria com a sua morte. No entanto, o respeito que outrora sentira por ele, tinha desaparecido. Agora, o seu filho era a sua única prioridade.