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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Sandra Myles

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

História de um reencontro, n.º 769 - Novembro 2014

Título original: The Borghese Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5926-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Volta

Capítulo 1

 

Em Itália estava o Verão mais quente do qual havia memória. Aquela última semana de Julho, segundo dizia o povo, entraria para o Livro dos Recordes como uma das mais quentes da história.

Para Dominic Borghese, a última semana de Julho era memorável; já o era há cinco anos.

Dominic tirou uns óculos de sol do visor do seu Ferrari cor de cereja e colocou-os, enquanto conduzia a certa velocidade pela estrada estreita das colinas toscanas.

Tinha cometido erros na sua vida; não era orgulhoso demais para o reconhecer. Um homem não evoluía como Dominic sem errar, mas a recordação e a sucessão de erros daquela última semana de Julho de há cinco anos atrás não o abandonavam. Um deles era um empréstimo que jamais devia ter feito.

O outro, uma mulher.

Dos dois erros, o empréstimo era o mais fácil de remediar. De facto, ia essa manhã tratar disso. Há anos que se sentia aborrecido por ter acedido a conceder aquele empréstimo, não pelo dinheiro em si, mas pelas condições do mesmo.

Dominic não tinha qualquer interesse em adquirir a companhia que a Marquesa del Vecchio lhe dera como garantia. Era uma velha senhora e Dominic aceitara a sua oferta, em vez de simplesmente lhe dar a quantia que ela lhe pedira, porque sabia que o orgulho da marquesa não a deixara aceitar dinheiro de outra maneira.

Nesse momento, graças aos seus contabilistas e a algumas pesquisas discretas, sabia que ela não lhe podia pagar o empréstimo. De modo que teria que encontrar forma de lhe dizer que aquela dívida era assunto tratado. Se isso ferisse o seu orgulho aristocrático, que assim fosse.

Dominic pisou o acelerador. O outro erro que tinha cometido no início dessa mesma semana, cinco anos antes, era impossível de rectificar.

Estava em Nova Iorque numa viagem de negócios e tinha ido a uma gala de beneficência durante a qual saiu para o terraço para apanhar ar e fugir dos fotógrafos, das conversas incongruentes e das mulheres operadas… e em menos de uma hora estava no seu apartamento a fazer amor com uma mulher sem nome, uma mulher de rosto belo, voz suave e um desejo tão ardente como o seu… uma mulher que deslizara para fora da sua cama enquanto ele dormia.

Nunca mais voltara a vê-la. Mas jamais a esquecera.

Dominic ficou tenso. Era estúpido continuar a pensar nela, mas sabia por que razão o fazia. Tinha sido uma noite misteriosa, um mistério loiro de olhos azuis e seda branca; um mistério que se negara a dar-lhe o seu nome, enquanto ele a tomava entre os seus braços, dizendo-lhe que aquilo era apenas um sonho e que era assim que devia ficar.

Como podia um homem esquecer um mistério?

Ainda recordava o sabor da sua boca, o aroma da sua pele, o tacto do seu corpo.

Sem dúvida, era uma estupidez. Se conseguisse apagar a lembrança daquela mulher com a mesma facilidade com que ia saldar a dívida com a marquesa…

Dominic suspirou. Para um homem que tinha começado com tudo contra si, não era nada mau. Sem dúvida que conseguia viver com aquilo.

Descontraiu-se um pouco. Esticou as pernas e descontraiu a mão no volante. Não fazia sentido pensar naquela mulher. Era diferente pensar na marquesa. Dentro de meia hora estaria no seu palazzo e ainda não tinha pensado num modo fácil de lhe dizer que não queria o seu dinheiro; nem sequer tinha interesse na empresa que ela dera como fiança.

Só de pensar nisso sorriu; se as pessoas com quem costumava fazer negócios soubessem o que estava a planear, jamais acreditariam.

Aos trinta e quatro anos, Dominic era o amo do mundo, ou pelo menos era isso que as pessoas diziam. Os homens que tinham chegado ao topo com muito trabalho, como ele, admiravam-no. Os que eram ricos por herança em vez de obterem o seu primeiro milhão a suar numa mina de esmeraldas no Brasil, sorriam-lhe, mas difamavam-no nas suas costas. Só que Dominic pouco se importava com isso. Só um idiota julgaria um homem pelo seu sangue.

Podia remontar à imagem da sua mãe alcoólica, que tinha escolhido aquele nome por supor que Dominic tinha sido concebido numa noite escura perto dos muros da Villa Borghese.

Aos doze anos de idade, aquela história sórdida atingira-o dolorosamente. Aos trinta, quando se apercebeu de que tinha ganho mais dinheiro do que os seus detractores ganhariam durante a sua vida, a história perdera toda a importância. O rumor mais recente apontava para o facto de ser descendente de uma relação ilícita entre um príncipe romano e uma criada. Dominic achava-a divertida.

Os rumores não conseguiam tocar nem nas suas riquezas nem no seu poder, e nem sequer afugentavam as mulheres da sua cama.

Eram sempre belas, muitas vezes famosas, e nunca aborrecidas; Dominic gostava de mulheres inteligentes e a maioria tinha a sua profissão e objectivos próprios. Dominic preferia assim, visto que não tencionava comprometer-se. Ainda não. A idade dos trinta e cinco sempre lhe parecera a mais adequada para arranjar uma esposa que ficasse bem ao seu lado, que se certificasse de que a casa de ambos era um lugar tranquilo e respeitado e que lhe desse um herdeiro. Um filho que pudesse tornar legítimo o apelido Borghese. Riqueza, poder e legitimidade. Que mais podia pedir o filho bastardo de uma prostituta?

Mas ainda não.

Ainda lhe faltava um ano para completar os trinta e cinco, e pensava continuar a desfrutar da sua liberdade, além de contemplar a ideia de que os seus homens podiam ir à procura da mulher com quem tinha estado naquela quente noite de Julho em Nova Iorque…

– Maldita seja! – murmurou Dominic enquanto acelerava.

Devia concentrar-se na tarefa que tinha entre mãos: encontrar o modo de dizer à marquesa que não queria que lhe devolvesse os três milhões de dólares que lhe emprestara sem magoar o seu orgulho.

Era uma importante soma de dinheiro e ele não era um banco. Fora isso mesmo que dissera à marquesa no dia em que esta o fora visitar ao seu escritório.

Tinha-lhe dito algo que toda a Itália sabia desde há centenas de anos. O dinheiro dos di Vecchio provinha das quintas que tinham nos arredores de Florença e de um negócio propriedade da família chamado Farfalla di Seta. O negócio tinha arrancado no século XV nas mãos da terceira Marquesa di Vecchio, cujo marido jogara a fortuna, deixando-a na bancarrota. Essa marquesa e as suas filhas tinham sido educadas na fina arte da costura e do bordado, tal como era próprio das damas da época, e conseguiram manter a sua casa e a criadagem fabricando acessórios de seda e renda. Bordavam-nos à mão e os preços eram exclusivos.

Ainda continuavam a sê-lo. Dominic sabia-o por experiência própria. Os tecidos da Farfalla di Seta eram um presente muito apreciado pelas mulheres belas.

– Ouvi falar dela.

– A Borboleta de Seda – disse a marquesa com desagrado. – É assim que é conhecido na América, onde o nosso negócio está actualmente localizado. Mas não gosto desse nome. Temos um negócio de família antigo e respeitável, cujas raízes se situam em Florença. Mas não sou parva, signore. Sei que é o gosto americano que impera no mundo. Quer goste ou não, aqueles que querem triunfar devem acatá-lo.

– Por favor, trate-me por Dominic. E diga-me porque é que cá veio, marchesa.

A mulher foi directamente ao cerne da questão.

– A Borboleta de Seda é o meu bem mais precioso.

– E?

– Necessito de seis biliões de liras.

– Três milhões de dólares americanos? – Dominic pestanejou.

– A minha neta, que é quem dirige o negócio, disse-me que temos que enfrentar uma concorrência muito dura. Necessitamos desesperadamente de nos modernizarmos, de mudarmos de local. Disse-me que…

– Essa sua neta diz muita coisa – adiantou Dominic com certa sorna. – Tem a certeza de que a opinião dela está correcta?

– Não vim aqui para me dar conselhos, signore.

– Dominic.

– Nem sequer para que questione as decisões da minha neta. Está à frente da Farfalla di Seta há muitos anos. Além disso, fui eu que a eduquei após a morte dos pais. É suficientemente italiana para entender a importância da empresa para a nossa famiglia, mas ao mesmo tempo suficientemente americana para compreender a importância de continuar no negócio, o que não conseguiremos se não recebermos uma injecção de capital. Foi por isso que cá vim, signore; como disse, necessito de seis biliões de liras.

Foi então que o seu telefone privado tocou; seria certamente Célia, a sua secretária.

– Entendo – disse, enquanto pegava no auscultador. – Bom, oxalá pudesse ajudá-la, marchesa, mas não sou um banco. E como estou certo de que já percebeu, o meu tempo…

– É valioso – adiantou a senhora. – Tal como o meu.

– Claro, perdoe-me, mas esta chamada…

– A chamada é daquela cadela de guarda que tem à porta, signore, e farei o possível para não roubar mais do que cinco minutos da sua maravilhosa manhã.

Dominic não se lembrava da última vez que alguém lhe tinha falado daquele modo. Normalmente, as pessoas que lhe pediam favores quase se ajoelhavam diante dele, pelo que o forte e irritável temperamento da marchesa era como um sopro de ar fresco.

Dominic levou o telefone à orelha, pediu para Célia atender todos os seus telefonemas e desligou.

– Porque é que veio pedir-me dinheiro, marchesa? Como já disse, não sou nenhum banco.

A sua resposta foi contundente.

– Estive nos bancos. Negaram-me o empréstimo.

– Porquê?

– Porque são estúpidos ao ponto de pensarem que uma empresa pequena não pode ter sucesso; porque acham que as mulheres não gastam centenas de dólares numa peça de roupa interior ou porque acham que a minha neta não devia estar à frente da empresa sozinha.

– E acha que eles estão errados?

– Eu sei que estão – respondeu a marquesa, com impaciência. – As mulheres sempre desejarão ter coisas caras. E se não forem elas a comprá-las, compram-nas os homens.

– E a sua neta? Acha-a assim tão capaz de gerir a Borboleta de Seda?

– A minha neta é licenciada em Ciências Empresariais por uma universidade americana. É esperta, tem garra e é capaz de fazer tudo aquilo a que se propuser. É como eu.

– Muito bem – disse. – Quer que lhe empreste o dinheiro. Diga-me porque é que devo fazê-lo.

– A Borghese Internacional adquiriu recentemente uma marca de moda francesa.

Dominic ficou impressionado. A notícia da fusão ainda não era do conhecimento público.

– E?

– E certamente verá as vantagens que lhe pode trazer ao integrar o nosso nome e a nossa clientela sob um único patrocínio – começou a dizer a marquesa com impaciência.

– Então, você quer vender-me a empresa?

– Está surdo? Não. Não quero vendê-la nem a si nem a ninguém. Estou a falar de um empréstimo. Só um empréstimo.

Dominic abanou a cabeça, confuso.

– Repito, marchesa, não sou nenhum banco.

– Devo reconhecer que o que estou a pedir acarreta algum risco.

– E?

– E pela cortesia de me conceder o empréstimo, dar-lhe-ei cinco porcento dos lucros da Borboleta de Seda.

Dominic não disse nada; cinco porcento de uma empresa em declínio era uma oferta ridícula, mas era demasiado educado para lhe referir isso.

– Se não conseguir pagar-lhe… – a marquesa respirou fundo. – Se algo tão pouco provável ocorrer, passaria a ser o único dono da Farfalla di Seta. E a sua casa de moda francesa poderia fabricar roupa utilizando o nosso nome.

A velha senhora ergueu-se no assento, mas ele viu que tinha as mãos a tremer. Pela primeira vez, percebeu o quanto lhe custara a ir até ali. Devia estar muito desesperada.

A sua equipa confirmou-lhe no dia seguinte o que ele já sabia. A marquesa estava na falência e o que lhe estava a oferecer em troca dos três milhões de dólares provavelmente não valia nem metade. Sabia que devia dizer-lho, mas para um homem de quem se dizia que não tinha coração, não era capaz de o fazer de modo tão directo.

– Ouvi dizer que é um homem que gosta de arriscar. Não foi assim que iniciou a sua fortuna, signore Borghese? Arriscando tudo, inclusive a sua própria vida, num projecto que era tão perigoso como idiota? – sorriu e ele viu o atrevimento da jovem que ela devia ter sido no passado. – Não perde nada, Dominic. Sou eu que estou a arriscar desta vez, não você.

Ao ouvir aquilo, Dominic levantou-se e ajudou a marquesa a fazer o mesmo.

– De acordo – disse. – Três milhões de dólares americanos.

A marquesa sorriu, deu-lhe a mão e Dominic nunca mais voltou a vê-la até ao dia anterior, quando lhe telefonou para o escritório e convidou-o para ir almoçar com ela. Estivera prestes a recusar, mas foi então que se lembrou do relatório que confirmava as suas desconfianças de que a marquesa não conseguiria pagar-lhe o empréstimo para cuja devolução só restavam três dias, e só por isso aceitara o convite.

A uns metros dele, um gradeamento de ferro forjado cortava uma estrada estreita. Tinha chegado ao palazzo e ainda não sabia como dizer à marquesa que não queria que lhe devolvesse o dinheiro sem magoar o seu orgulho.

Dominic diminuiu a velocidade do Ferrari, olhou para a câmara colocada no alto de um cipreste e esperou, enquanto o portão se abria lentamente.

Uma hora depois, enquanto tomavam um espresso servido num serviço do século XVI, entendeu que o seu plano estava destinado ao fracasso. A marquesa tinha evitado falar de negócios até depois do almoço. Nesse momento, à primeira referência que ele lhe fizera quanto aos impostos, lucros e perdas, ela fizera um gesto desdenhoso com a mão.

– Deixemo-nos de rodeios, signore, e vamos directamente ao assunto. Como provavelmente desconfia, não posso devolver-lhe o dinheiro que lhe devo.

Dominic assentiu.

– Desconfiava, sim, mas isso não é um problema.

– Não, não é. Tínhamos um acordo. A Borboleta de Seda – a sua postura era digna, mas o tremor da sua voz delatou-a.

Marchesa, por favor, escute-me. Não posso…

– Pode. E deve. Foi esse o nosso acordo.

Dominic passou a mão pela cabeça.

– Os acordos podem mudar.

– Não entre as pessoas de honra – disse com frieza. – E é isso que ambos somos. Os di Vecchio não aceitam caridade.

– Não, claro que não. Eu só queria…

– Queria renegar os termos do nosso acordo.

– Não. Sim. Diabos a levem, marchesa…

– Não é necessário recorrer a uma linguagem profana, signore.

Dominic levantou-se.

– Estou apenas a recorrer à lógica. Sem dúvida que já se apercebeu disso.

A marquesa levantou a cabeça. Os seus olhos, ainda de um azul vibrante, deixaram-no cravado ao local onde estava sem qualquer misericórdia. Aquele tom tão vivo fê-lo recordar algo. Aonde é que tinha visto antes semelhante tom?

– Parece que o julguei mal. Pensei que era uma pessoa de honra.

Dominic ficou tenso.

– Se fosse homem – disse num tom suave, – jamais deixaria que me dissesse uma coisa dessas.

– Então, não tente evitar adaptar-se ao nosso acordo.

Dominic olhou para a mulher de rosto altivo, murmurou algo entre dentes e começou a passear-se pela sala de jantar. Passeou-se de um lado para o outro três vezes antes de se voltar de novo para a marquesa.

– Não seria um homem de honra se ficasse com a Borboleta de Seda. Talvez não veja as coisas dessa maneira, mas eu vejo.

A marquesa suspirou.

– Suponho que entendo as suas razões. Aceito uma troca dos termos.

– Excelente – Dominic foi beijar a mão da marquesa. – E agora, se me permite, a viagem de volta é longa e…

– Deve reconhecer – interrompeu-o a marquesa num tom suave, – que a Borboleta de Seda seria uma excelente aquisição para o seu grupo de moda francês.

– Sim, sim, concordo. Certamente que sim, mas…

A mulher bateu com a bengala no chão, tal como fizera no gabinete de Dominic cinco anos antes. Uma criada apareceu tão rapidamente que ele pensou que devia estar à espera no corredor, e apressou-se até eles com uma moldura de prata na mão.

– Durante todo este tempo – disse a marquesa, enquanto a criada se afastava, – alguma vez se lembrou de conhecer a minha neta?

– E porque é que haveria de me lembrar? Disse-me que ela era mais do que capaz de gerir a Borboleta de Seda.

– E é – a marquesa observou a fotografia que tinha entre as mãos e sorriu. – Ainda assim, esperava que você e a Arianna se tivessem conhecido – olhou-o nos olhos. – Tenho a certeza de que vai achá-la muito atraente.

Santo Deus, onde é que aquilo ia chegar? A marquesa voltou a fotografia para ele. E, nesse mesmo instante, Dominic sentiu que o sangue se lhe gelava nas veias. Estava a olhar para uma cara que tinha visto antes, uma cara que depois de cinco anos ainda o obcecava nos sonhos. Os seus cabelos eram da cor da luz do sol; os seus pómulos, elegantes, a boca, em forma de coração, e os olhos, de um tom azul que rapidamente reconheceu como sendo iguais aos da marquesa.

De algum modo, conseguiu voltar a respirar.

– Quem é esta?

– A minha neta, Arianna, claro.

Arianna. O nome condizia com a mulher. Dominic estava atordoado. Necessitava de respirar ar puro.

– Marchesa, acho que… Parece-me que devia ir-me… Tenho que partir. Está a ficar tarde e a viagem de volta para Roma é…

– Longa. Claro. Mas decerto que vai querer saber a forma como proponho que remediemos o nosso acordo.

– Agora não. Noutra altura. Amanhã ou outro dia, mas…

– Mas o quê? A minha Arianna é linda. Sem dúvida que já percebeu isso.

– Sim, é, mas…

– É esperta, saudável e está na idade de ter filhos.

– Como? – Dominic soltou uma gargalhada. – Marchesa, por amor de Deus…

– Nem você nem ela são crianças. Não quer ter filhos? Não quer fundar uma dinastia? – a marquesa ergueu a cabeça. – Ou continuar uma tão antiga como a minha ou da Arianna?

Dominic respirou fundo.

– Não estará a sugerir que…

– Claro que sim. Case-se com a minha neta, signore Borghese. Una as duas casas. Ganhará a Borboleta de Seda e eu não a perderei. Assim, saberemos que a dívida dos di Vecchio está paga.