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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Brenda Streater Jackson

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Íntima sedução, n.º 1191 - Junho 2014

Título original: Zane

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada Dreamstime.com

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5255-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo Um

 

– O que queres dizer com isso de Channing ter voltado para Denver? – Zane Westmoreland deixou-se cair numa cadeira, olhando, fixamente e de sobrolho franzido, para a irmã.

Bailey sabia que mencionar Channing Hastings deixaria o irmão perplexo, mas fingiu não se aperceber disso enquanto continuava a comer o seu gelado. E, por fim, após um longo silêncio, inclinou a cabeça.

– Quero dizer o que disse: hoje encontrei Channing e almoçámos juntas, e com Megan, no hospital. Pelo que percebi, chegou na semana passada. E, a propósito, está muito bonita.

Zane não se surpreendeu. Na sua opinião, Channing fora sempre linda.

De repente, aquele pensamento enfureceu-o. Por que lhe iria importar que a sua ex-namorada estivesse bonita ou não? E, sobretudo, por que lhe despertava tal fúria saber que ela tinha voltado a Denver?

Claro que podia responder à pergunta sem precisar de pensar muito. O que o magoara mais não fora a separação, mas a forma como se tinham separado. Normalmente, era ele quem decidia quando pôr fim a uma relação, mas Channing surpreendera-o mandando-o passear.

– Veio com o seu noivo? – perguntou-lhe. E um segundo depois desejou ter mordido a língua.

– Não, só estará aqui entre três a seis semanas. Veio para um simpósio de medicina no hospital – Bailey ficou calada durante quase um minuto. – Esse homem dá-me raiva.

Zane arqueou uma sobrancelha.

– Que homem?

– O noivo de Channing. No casamento de Megan olhava para todas as mulheres, mesmo com ela ao seu lado. Grande cara de pau.

Zane também reparara que ele olhava demasiado para as mulheres... embora isso não lhe devesse dizer respeito. Se Channing estava disposta a suportá-lo, era problema dela.

Olhou pela janela, pensativo. Não namorara com Channing mais tempo do que com qualquer outra rapariga. Foram exatamente nove meses. E as coisas até corriam muito bem entre eles. Mas depois ela começou a dar a entender que queria algo mais da relação...

Foi então que lhe reafirmou que não pretendia casar-se. Channing voltou a abordar o tema e Zane supôs que as coisas tinham voltado à normalidade. Mas, de repente, uma semana mais tarde, ela disse-lhe que tinha aceitado um trabalho num hospital de Atlanta.

O que o deixara estupefacto. Estava a tentar forçá-lo a fazer algo que ele não queria e não pensava deixar nenhuma mulher fazer-lhe isso. Por isso, não lhe fez proposta alguma, convencido de que ela voltaria atrás.

Só que Channing foi-se embora para Atlanta.

Isso fora há quase dois anos e não voltara a vê-la nem a saber dela até ela aparecer no casamento da sua irmã no mês passado, com o seu noivo ao lado.

O seu noivo.

A mera palavra enfurecia-o. Tivera a lata de ir com o noivo ao casamento de Megan sabendo que ele estaria ali. E, como Bailey tinha dito, o homem passara o tempo de olho nas outras mulheres, mesmo tendo Channing ao seu lado. Que ela estivesse tão desesperada para aceitar um homem assim enfurecia-o ainda mais.

– Isto está delicioso.

As palavras de Bailey interromperam os seus pensamentos. Quando chegou a casa, a irmã estava sentada na cozinha como se vivesse ali. E, estando tão irritado, a presença dela incomodava-o mais que nunca.

– Pode-se saber o que fazes aqui?

Ela esboçou um sorriso.

– Que te parece? Estou a comer um gelado.

– O meu gelado – corrigiu-a ele. – Como conseguiste entrar? Mudei a fechadura.

Bailey chegou-se para trás na cadeira, a rir.

– Já me tinha dado conta. Esqueceste que sou capaz de abrir qualquer fechadura? Brisbane ensinou-me há anos. E o gelado compraste-o para mim. Tu não gostas e este é o meu sabor preferido.

– Todos os sabores são os teus preferidos – disse ele, tentando dissimular um sorriso. Tinha esquecido aquele talento dela para abrir fechaduras, um de tantos que ela e Brisbane usavam para se meterem em sarilhos.

Zane levantou-se da cadeira para dirigir-se à porta.

– Onde vais? – chamou-o Bailey.

– Como não posso ter paz na minha própria casa, vou cavalgar um pouco. Estarei fora uma hora, mais ou menos, e, com um pouco de sorte, quando voltar, já terás ido chatear outro.

Dito isto, saiu de casa, batendo a porta.

 

 

– Channing, espera!

Channing voltou-se, sorrindo ao ver Megan Claiborne, antes Westmoreland. Megan, a sua melhor amiga quando trabalhava no hospital de Denver, casara um mês antes com Rico Claiborne, um homem lindíssimo que trabalhava como detetive privado em Filadélfia. Desde que casara, Megan trabalhava seis meses como anestesista em Denver e os outros seis num hospital de Filadelfia.

E tinha um aspeto diferente.

– O casamento tem-te feito bem – disse-lhe quando chegou ao seu lado.

– Achas?

– Claro. Estás radiante e pareces feliz. Feliz a sério.

Megan soltou uma gargalhada.

– Sou feliz e tenho de admitir que o casamento me faz bem. Rico é a melhor coisa que me aconteceu na vida. É tudo o que poderia desejar num homem.

– Então, tens razões para estar tão radiante – Channing ficava feliz pela sua amiga e queria a mesma felicidade para si mesma.

Os casamentos longos eram algo habitual na sua família. Os seus pais estavam casados há trinta e cinco anos, os seus avós celebrariam o sexagésimo aniversário no ano seguinte, os seus tios estavam casados há vinte anos e o seu primo Juan há mais de oito.

Enquanto andava com Zane acreditara que ele era o homem da sua vida e, apesar de ele lhe ter dito mais que uma vez que não pensava casar, ela quisera acreditar que ele mudaria de opinião com o passar do tempo.

Embora nunca tivesse pronunciado palavras de amor, sabia que Zane sentia algo por ela porque era tão atencioso, tão possessivo, tão protetor... Ela fora a primeira mulher a quem ele convidara para jantar com a família e a primeira a quem dera uma chave da sua casa, por isso, ingenuamente, pensara que era mais importante do que as namoradas que ele tivera no passado.

Mas, à medida que o tempo passava, tornou-se evidente que, para Zane, ela era apenas uma aventura passageira. E, um dia, depois de já namorarem há nove meses, perguntou-lhe que futuro via na relação. Ele respondeu-lhe que nada mudara, que não pretendia casar-se. Que, embora se importasse muito com ela, não estava apaixonado e nunca o estaria.

Channing agradeceu a sua sinceridade, embora de alma ferida e, para proteger o seu coração, decidiu terminar com ele e partir para Atlanta.

Uma semana depois, aceitou um cargo de neurologista no hospital Emory, naquela cidade, mas só contou os seus planos a Zane uma semana antes de se ir embora.

– Queria pedir-te que viesses jantar com a minha família na sexta-feira – disse Megan então.

Channing fez um esgar.

– Não, tu sabes que não posso ir.

– Porquê? A tua relação com Zane não funcionou e cada um seguiu em frente com a sua vida. Na minha opinião, como sabes, o meu irmão é que ficou a perder.

– Mas eu não quero que ninguém se sinta incomodado. Zane nem sequer me cumprimentou no teu casamento...

– Esquece o meu irmão – interrompeu-a Megan. – Não pensava que vocês fossem continuar juntos quando ele não queria comprometer-se.

Tinha sido tão duro para ela dizer-lhe adeus... e partir, sem olhar para trás.

– Não quero que ninguém se sinta incomodado com a minha presença.

– Channing, tu eras minha amiga antes de eu namorar com Zane. Não há nada de mal em jantares com a minha família.

– Obrigada, mas acho que é melhor não fazê-lo. Só estarei em Denver três semanas... bom, seis, se decidir fazer um segundo simpósio. Eu acho que o melhor é manter as distâncias.

Por agora, Megan decidiu não insistir, mas ela sabia que a sua amiga não desistiria.

– Se mudares de opinião, diz-me.

Channing assentiu com a cabeça. Mas não iria mudar de opinião.

 

 

Quando Zane voltou para casa, Bailey tinha-se ido embora. Ele subiu para o quarto para tomar um duche, recusando-se a admitir que tinha saudades da irmã. Bailey era famosa por visitá-lo não só a ele mas também ao resto da família, incluindo tios e primos, quando lhe apetecia e sem aviso prévio.

Havia quinze Westmoreland em Denver. Os seus pais tinham tido cinco rapazes: Ramsey, Zane, Derringer e os gémeos Aiden e Adrian. E ainda três filhas: Megan, Gemma e Bailey. O tio Adam e a tia Clarisse tinham tido sete filhos: Dillon, Micah, Jason, Riley, Canyon, Stern e Brisbane.

Durante os últimos anos, quase todos se tinham casado ou estavam prestes a casarem-se. Os únicos que resistiam eram ele, os gémeos, Bailey, Canyon, Stern e Brisbane.

Os seus pais e tios tinham morrido num acidente de avião há quase vinte anos, deixando o irmão de Zane, Ramsey, e o seu primo, Dillon, encarregues da família. Não tinha sido fácil, especialmente porque vários dos seus primos eram, então, menores de idade, mas Dillon e Ramsey tinham feito muitos sacrifícios para que a família continuasse unida.

A morte dos seus pais fora uma tragédia para todos, sobretudo para os gémeos e para Bailey, que eram os mais jovens.

Considerada a bebé da família, embora já tivesse vinte e seis anos, Bailey trabalhava para a Simplesmente Irresistível, uma revista para a mulher moderna cuja proprietária era a mulher de Ramsey, Chloe. Mas, além de trabalhar para a revista, Bailey era uma força da natureza.

Quando chegou ao seu quarto, Zane olhou pela janela para as terras que rodeavam a casa. A terra dos Westmoreland. Como Dillon era o mais velho, tinha herdado a casa principal e os cento e vinte hectares que a rodeavam. Todos os outros, ao cumprirem vinte e cinco anos, recebiam dois hectares. Graças à mente criativa de Bailey, cada um dos ranchos ganhava um nome: A Teia de Aranha de Ramsey, O Esconderijo de Zane, A Masmorra de Derringer, A Pradaria de Megan, A Gema de Gemma, O Solar de Jason, O Castelo de Stern e O Penhasco de Canyon. Eram umas terras belíssimas, cercadas por montanhas, com vales, lagos, rios e ribeiros.

Zane adorava a sua casa, uma estrutura de dois andares com um alpendre que a contornava por completo. Tinha espaço mais do que suficiente para ele e para a sua família, se algum dia decidisse casar-se, mas assentar a cabeça não estava nos seus planos. Algumas pessoas viviam melhor sendo donas do seu nariz e ele era uma delas.

Tirando quando se tratava de negócios. Ele, o irmão Derringer e o primo Jason eram sócios num lucrativo negócio de criação e adestramento de cavalos, juntamente com vários primos que viviam em Montana e no Texas. A sociedade ia muito bem e tinham clientes até no Médio Oriente. Desde que um dos seus cavalos, Prince Charming, vencera o dérbi de Kentucky uns anos antes, a lista não parava de crescer.

Gostava do seu trabalho porque gostava de viver ao ar livre. A única coisa de que gostava ainda mais era das mulheres e não queria que nenhuma delas pensasse que poderia ser a última. Não existia uma só mulher no mundo que o pudesse fazer assentar.

Zane sentiu uma pontada de dor ao pensar nisso. Não, não era completamente verdade. Tinha havido uma mulher: a doutora Channing Hastings.

A sua irmã Megan apresentara-os e sentira-se atraído por ela desde o primeiro momento. Além da sua beleza, havia algo especial que o atraía como as abelhas ao mel. Era uma fantasia erótica tornada realidade. Pensara sair apenas um par de meses com ela, como era seu costume, mas, no final, a relação acabara por ser bem mais longa.

Zane inclinou-se para tirar uma caixa que guardava sob a cama e abriu-a usando uma chavezinha que tinha sempre no porta-chaves. Dentro desta, havia um calendário personalizado com fotos de Channing que ela lhe oferecera quando celebrara os trinta e cinco anos.

Tinham passado já quase dois anos desde que ela partira para Atlanta?

Começou pelo mês de janeiro e quando chegou a dezembro estava a suar. Ver Channing com diminutas camisas de noite, uma diferente para cada mês, punha-o nervoso... e no mês de dezembro não vestia absolutamente nada. Estava deitada sobre a cama, com o seu corpo nu mal coberto por um edredão branco com estampado natalício, olhando para a câmara com uma expressão de desejo que ele conhecia muito bem.

A fotógrafa, uma colega do hospital, captara-a em poses incríveis.

Channing Hastings era uma mulher lindíssima de pele morena. Tinha uns belos olhos cinzentos, pómulos altos, nariz arrebitado, lábios carnosos e uma cabeleira castanha clara, quase dourada.

A única constante nas fotos era o colar que usava, um colar de ouro que ele lhe tinha oferecido. O mesmo que Channing lhe devolvera quando lhe disse que se ia embora de Denver.

Zane tirou o colar da caixa, recordando o dia em que o tinha comprado... estava em Montana com o seu primo Durango, que queria comprar um presente para a mulher, Savannah. Numa joalharia, Zane viu o colar, que tinha um pendente em forma de meia-lua, e pensou que seria o presente perfeito para Channing. Não se tinha perguntado porquê, só sabia que queria vê-lo no seu pescoço.

Quando ela tinha partido, admirara muitas vezes o calendário e o colar. Por isso, dera a caixa a Megan, para parar de torturar-se. Embora sentisse curiosidade pelo conteúdo, a irmã era discreta e não tentaria abri-la.

Não podia dizer o mesmo de Bailey, que lhe recordara naquele mesmo dia a sua habilidade para abrir qualquer fechadura.

Megan guardara a caixa durante quase um ano, mas Zane recuperara-a quando, no ano anterior, viajara com Rico ao Texas.

Megan convidara Channing para o seu casamento embora ele lhe tivesse pedido que não o fizesse. Mas, como Bailey, Megan fazia o que queria e não gostava que os seus irmãos lhe dissessem o que devia fazer. Porém, mais que o convite, magoara-o que tivesse ido a casa de Megan uns dias antes para cumprimentar os recém-casados e que ela não lhe tivesse dito nada sobre o regresso de Channing.

Zane voltou a deixar o calendário e o colar na caixa, que guardou sob a cama. Os caminhos deles não precisavam de se cruzarem, pensou, enquanto se metia no duche.

Mas talvez devessem.

Era altura de ver a situação de modo diferente, com mais objetividade. Tinha esquecido Channing meses antes e, evidentemente, ela tinha-o esquecido a ele porque estava comprometida com outro homem. Ele era feliz com a sua vida, ela com a sua.

Sim, decidiu enquanto abria a torneira. Iria ver Channing.

Não havia nada de mal em dar-lhe as boas-vindas à cidade.