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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Abby Green

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

As regras do xeque, n.º 1535 - Maio 2014

Título original: Breaking the Sheikh’s Rules

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5148-1

Editor responsable: Luis Pugni

 

Conversión ebook: MT Color & Diseño

Índice

 

Portadilla

Créditos

Índice

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Volta

Capítulo 1

 

O xeque Nadim bin Kalid al Saqr seguiu o cavaleiro com o olhar enquanto treinava na pista. O seu espanto não deixava de aumentar, não só pela magnificência do potro, mas também pelo intenso verdor de tudo o que o rodeava. A chuva caía sem cessar e cobria tudo com uma neblina fina que refrescava aquele dia quente de setembro.

Curtido na aridez do deserto e das montanhas, jamais teria esperado sentir afinidade com aquela zona inclemente do mundo, mas, surpreendentemente, a exuberância do lugar apelava a um canto da sua alma.

Até àquele momento, o seu interesse pelas corridas e pela criação de puros-sangues jamais atravessara as fronteiras da península arábica. Os seus assistentes compravam na Europa e faziam-lhe chegar os cavalos, mas tinha chegado a hora de estabelecer uma sede na Europa e o lugar escolhido fora Kildare, a capital irlandesa da criação de cavalos.

A Irlanda tinha a fama de ter os melhores cavalos, criadores e treinadores do planeta. O homem que estava ao seu lado, apesar do rubor, sinal inequívoco de problemas com álcool, era um dos melhores treinadores do mundo, mas estava há muito tempo afastado das corridas.

O silêncio tornou-se tenso, mas Nadim continuou sem falar durante alguns segundos, olhando para o exemplar de dois anos.

O cavalo era dos melhores, mas o cavaleiro também era excelente. Parecia ter dezoito anos e era de constituição magra. Definitivamente, era muito jovem, mas tinha uma forma de manejar o cavalo que denotava um talento inato, coragem e experiência. E o animal era de natureza brava.

O homem mexia-se com impaciência ao seu lado, portanto, Nadim falou por fim.

– É um potro extraordinário.

– Sim – disse Paddy O’Sullivan, aliviado. – Estava certo de que se daria conta.

O cavalo de que falavam era uma das razões pelas quais Nadim se encontrava na Irlanda. Saíra a sorte grande a Paddy O’Sullivan. A sua propriedade de criação de cavalos, humilde e pequena, já não voltaria a ser a mesma depois de semelhante venda.

– Seria difícil não o fazer – murmurou Nadim, contemplando o movimento formidável dos músculos do cavalo.

Enviara o seu assistente mais experiente àquele canto do mundo e o potencial da zona não demorara a tornar-se evidente. Era o lugar perfeito para a sua base de operações na Europa.

Apertou os lábios ao recordar a história que o seu assistente lhe tinha contado. Pelos vistos, uma mulher furiosa e o seu cão raivoso tinham-no expulsado da propriedade. Por isso, tinha-se assegurado de contactar diretamente Paddy O’Sullivan.

A quinta de criação de cavalos O’Sullivan fora um negócio próspero noutros tempos. Dali tinham saído muitos vencedores. A linhagem da qual provinha o potro já criara um nome na Irlanda depois de ganhar duas das corridas mais conhecidas nos meses anteriores. Nadim sentiu expectativa, uma sensação que não experimentava há muito tempo.

– Iseult está há bastante tempo a trabalhar com ele sem descanso. Não seria o cavalo que é agora sem ela.

Nadim franziu o sobrolho e olhou para o homem baixo que estava ao seu lado. Nunca tinha ouvido aquele nome. Devia ser de origem irlandesa.

Eesult?

O homem apontou para a pista de treino.

– Iseult é minha filha, a mais velha. Tem o dom. Ainda nem sequer andava e já se entendia com todos os animais que encontrava.

Nadim voltou a olhar para o cavaleiro, surpreso. Era uma rapariga? E tinha treinado o cavalo? Era impossível. Já trabalhara com muitas mulheres, mas nunca com uma que fosse tão jovem. Era demasiado jovem, por muito talento que tivesse.

Abanou a cabeça e foi então que começou a ver certas diferenças. O cavaleiro tinha a cintura muito estreita. A silhueta dos ombros era delicada. Fora isso, não conseguia dizer muito mais. A rapariga usava umas calças de ganga e um polo, e tinha o cabelo apanhado e tapado por um boné. De repente, apercebeu-se de que não levava capacete.

O familiar calafrio percorreu-o mais uma vez, mas conseguiu controlá-lo. Não estavam em Merkazad. O chão era suave.

Mas, de qualquer modo, deveria usar a proteção adequada. Se estivessem nos seus estábulos, ouviria uma reprimenda por não ter protegido a cabeça.

– Lamento o que aconteceu com... o seu assistente – disse O’Sullivan em voz baixa para que ninguém pudesse ouvi-lo. – Iseult não quer vender o picadeiro, nem Devil’s Kiss – prosseguiu com nervosismo. – É muito apegada ao seu lar e ao seu... – o homem hesitou e corrigiu-se. – Àquele cavalo que já não é seu – acrescentou.

Nadim sentiu que lhe fervia o sangue. Fora ela quem expulsara o seu assistente? No seu país, as filhas eram obedientes e educadas.

– Está prestes a ser meu. Tal como a quinta – disse, com tom soberbo. – A menos que tenha mudado de ideias.

O’Sullivan quase se engasgou.

– Não, xeque Nadim. Não queria dizer isso. Mas Iseult anda há muito tempo a treinar Devil’s Kiss... e está muito apegada a ele.

Nadim lançou-lhe um olhar sombrio.

– Espero que a vantagem de manter a propriedade e o cavalo em seu nome, assim como a possibilidade de manter o seu trabalho como administrador, seja recompensa suficiente. Serem despejados pelo banco seria uma alternativa muito pior.

O irlandês esfregou as mãos, receoso.

– É óbvio, xeque Nadim. Não queria dizer outra coisa. É que Iseult... Bom, é um pouco teimosa. Espero que não se ofenda...

A sua voz desvaneceu-se ao ver que o cavaleiro diminuía a marcha. Parou à frente deles. Não havia dúvida. Era uma rapariga. Quantos anos teria?

A jovem não se incomodou em desmontar para o cumprimentar como era devido, mas Nadim só conseguia olhar para o seu rosto, parcialmente tapado pela pala do boné. Sentiu um aperto no coração de repente.

Aquele rosto parecia esculpido com aprimoramento. Tinha as maçãs do rosto altas, o queixo firme, o nariz reto. Não lhe via os olhos, mas tinha a boca contraída, rígida. Nadim baixou o olhar e, então, reconheceu as curvas, subtis, mas inconfundíveis, de um corpo feminino.

Iseult O’Sullivan tinha sofrido o inexprimível ao ter de montar Devil’s Kiss para o exibir diante do novo dono. Aquele homem estava ali para fazer o inventário do seu saque. Nem sequer se tinha incomodado em verificar o que estava a comprar antes de fechar o negócio.

Mandara um empregado entrar na propriedade e tirar fotografias. Depois, tinha comprado as terras circundantes e, desde então, dedicara-se a observar, a esperar pelo momento certo para atacar, como um abutre à volta da carniça.

De repente, sentiu-se absurdamente feliz por voltar a montar Devil’s Kiss. Se tivesse os pés no chão, não teria sido capaz de recordar porque estava tão furiosa. Agarrou as rédeas e o cavalo mexeu-se com impaciência. Podia sentir a sua agitação.

O homem parecia vindo de outro planeta e não tinha nada a ver com o estereótipo de xeque árabe que imaginara. Tivera de o procurar na Internet para obter mais informação sobre ele. Vira muitas fotografias, mas, mesmo assim, custava-lhe a assimilar a realidade. Parecia ter trinta anos e era tão atraente como parecia nas fotografias, alto, bonito e moreno.

Usava umas calças de ganga gastas que se ajustavam aos músculos e o tecido da camisa arregaçada esticava-se sobre os bíceps poderosos. Com um pé apoiado na cerca, denotava desenvoltura e prepotência. Tinha o cabelo curto e muito escuro, mas abundante.

Iseult estremeceu sem querer. Havia uma sexualidade inata nele, uma virilidade que apelava aos seus instintos mais básicos.

Era um aristocrata e, como tal, emanava um ar de autoridade e de poder difícil de ignorar. O seu reino era uma nação rica onde se criavam e treinavam cavalos que faziam história.

Com o coração acelerado, Iseult viu-o a saltar por cima da cerca com um movimento ágil. Devil’s Kiss levantou a cabeça imediatamente e começou a mexer-se de um lado para o outro, soprando. Deu-lhe algumas palmadinhas rápidas e murmurou algo para o tranquilizar.

O seu pai, a alguns metros de distância, não parava de lhe enviar mensagens em silêncio. Rogava-lhe que se comportasse, mas doía-lhe demasiado o coração para prestar homenagem a um magnata do mundo equestre.

O xeque olhava-a com intensidade e podia ver como mudava de expressão. Parecia que o incomodava que não desmontasse para o cumprimentar. Finalmente ouviu a voz do seu pai. Havia medo nela.

– Iseult, por favor, deixa que o xeque Nadim monte Devil’s Kiss. Veio de muito longe.

Com muito menos graciosidade do que o normal, Iseult desceu do cavalo e entregou-lhe as rédeas. Ao ver como era alto, sentiu que os joelhos lhe tremiam um pouco.

– Aqui tem – disse-lhe.

Os olhos do xeque emitiram um brilho perigoso e, então, agarrou as rédeas. Os seus dedos roçaram-se brevemente, mas Iseult retirou a mão com rapidez. Devil’s Kiss mexeu-se novamente.

Antes que perdesse a compostura, deu meia-volta e afastou-se. Saltou por cima da cerca e parou junto do seu pai. Ele olhava-a com impaciência e exasperação.

O xeque Nadim caminhou à volta do cavalo. Afrouxou um pouco os estribos, deslizou uma mão sobre o lombo do animal e montou com uma graciosidade inesperada. Ao incitá-lo com um golpe nos flancos, Devil’s Kiss pôs-se a andar a meio galope.

Iseult ficou tensa. O seu cavalo era um traidor. Não oferecera a mínima resistência.

O xeque Nadim al Saqr tinha fama de ser um rebelde. Demorara muito tempo a estabelecer-se na Europa e mantinha os cavalos na sua terra natal, longe dos olhares curiosos, em segredo. No ano anterior, tinha revolucionado o mundo da equitação ao inscrever um dos seus cavalos numa das corridas mais prestigiadas, a de Longchamp. O potro tinha saído vitorioso e assim conquistara o respeito de peritos e rivais.

– Não esperavas que Devil’s Kiss se adaptasse tão bem, pois não? – perguntou-lhe o seu pai, rindo-se.

Iseult sentiu lágrimas nos olhos, uma coisa muito imprópria dela. Depois de tudo o que tinha passado na vida, raramente sentia vontade de chorar.

Deu meia-volta e pôs-se a andar para a casa da qual já não eram donos, longe dos campos que também lhes tinham arrebatado.

– Iseult O’Sullivan, volta imediatamente! Não podes ir-te embora assim. O que vai pensar?

Iseult virou-se, mas continuou a andar para trás e levantou os braços.

– Perdemos tudo, papá. Não penso fazer-lhe uma reverência e pôr-me de joelhos. Ele que leve Devil’s Kiss para o estábulo se o quer assim tanto.

Depois de ter passado tantos anos a cuidar do seu pai e dos três irmãos mais novos, a sua autoridade nunca era discutida em casa. Inclusive o seu pai sabia quando devia deixá-la em paz. Devia-lhe muito.

Enquanto caminhava para a casa, reparou no todo-o-terreno metalizado enorme com vidros fumados. Havia um guarda-costas junto do veículo, alerta e atento a tudo o que o rodeava.

Era igual ao empregado insolente que tinha inspecionado a propriedade como se se tratasse de uma escrava prestes a ser leiloada. Naquela época, ainda nem sequer tinham anunciado que iam vender a quinta.

Iseult virou-se e continuou a andar. As lágrimas desfocavam-lhe a visão. Uma parte dela envergonhava-se da sua falta de educação, mas havia algo no xeque que a levava a levantar todas as defesas possíveis, algo que a obrigava a manter-se sempre alerta.

Simplesmente, não podia ficar ali a ver como lhe roubava o seu cavalo, humilhada e convertida numa simples ajudante das cavalariças.

As lágrimas secaram-lhe rapidamente. As coisas podiam ser assim no seu país, mas eram muito diferentes na Irlanda. Imaginava-o num país exótico de bárbaros, com dezenas de haréns ao seu dispor, rodeado de mulheres seminuas que satisfaziam todos os seus desejos. Sem dúvida, achava-se suficientemente importante para aparecer numa vila da Irlanda rodeado de guarda-costas.

Iseult entrou nas quadras e tirou o boné, soltando o cabelo. Respirou fundo. Um suor quente caía-lhe entre os seios e ao longo das costas. Sabia que estavam há muito tempo a travar uma batalha perdida e que o fim tinha chegado. Realmente, não tinha motivos para sentir tanta antipatia pelo xeque, mas era o novo dono da sua casa, do seu lar.

Olhou à sua volta e contemplou os estábulos antigos. As forças abandonaram-na nesse momento. O cansaço e a tristeza faziam-se sentir por fim. Quase não restavam cavalos. E o picadeiro ao fundo do caminho também estava vazio. A casa ficava à direita dos estábulos. Noutra época, fora uma casa de campo reluzente e próspera, mas já não era nem a sombra do que fora. Trabalhara muito para se manterem à tona, mas correra tudo mal.

Tinham vencido duas corridas muito prestigiadas recentemente, mas esse dinheiro tinha servido para pagar uma parte mínima das dívidas que se tinham acumulado depois de muitos anos de má gestão. O único trunfo que lhes restava era Devil’s Kiss e estavam prestes a perdê-lo. O xeque tinha a intenção de o levar para o país dele para o fazer correr e criar uma nova linhagem de vencedores. Ia levar o melhor da quinta e convertê-los numa mera linha de montagem equestre.

Iseult não via inconvenientes em ampliar o negócio, mas, acima de tudo, sempre tinha valorizado o facto de ser fiel à sua identidade. Muitos tinham vendido as quintas a árabes ricos, mas já não havia nada que os distinguisse deles.

Cheia de pena, Iseult dirigiu-se para a quadra de Devil’s Kiss para preparar tudo. Ligou a mangueira e começou a lavá-la. Pensava no avô, no quanto teria odiado viver um dia como aquele. Tinha adoecido quando ela tinha dez anos e Iseult tinha-o seguido para toda a parte até à sua morte. Tudo fora descoberto então.

Iseult afastou os pensamentos tristes. Ao demonstrar o seu pedigree, Devil’s Kiss tinha monopolizado toda a atenção, sobretudo porque não criavam um cavalo vencedor há muito tempo. Toda a gente sabia que estavam entre a espada e a parede e que tinham vendido tudo exceto as éguas mais velhas para investir em Devil’s Kiss. A agitação mediática teria sem dúvida chamado a atenção do xeque.

As lágrimas ameaçavam aflorar novamente e foi então que Iseult ouviu o som das ferraduras contra o chão. Secou rapidamente as lágrimas e virou-se. O sol escolheu aquele momento para sair do seu esconderijo entre as nuvens escuras e fê-la estremecer. Viu-se momentaneamente encandeada. A única coisa que via era a silhueta escura do xeque sobre Devil’s Kiss, como um mau presságio.

Durante uma fração de segundo, Nadim ficou paralisado. A rapariga tirara o boné. Era muito jovem e a sua beleza era de tirar o fôlego. A sua pele parecia de alabastro e tinha uma cabeleira comprida, vermelha como o fogo, mas eram os seus olhos o que mais lhe chamava a atenção, amendoados e cor de âmbar.

– Se já acabou a inspeção, vou levar Devil’s Kiss. Eu não faço parte do inventário da sua nova aquisição.

A sua voz era surpreendentemente grave, mas Nadim não reparou nisso naquele momento. O seu olhar altivo e soberbo acabava de lhe provocar raiva. Desmontou rapidamente. Mais uma vez, deixara-se encantar por alguém que não passava de uma empregada das cavalariças. Ignorou a mão que ela tinha estendido para agarrar as rédeas e atravessou-a com um olhar fulminante.

– Corrija-me se estiver enganado, menina O’Sullivan, mas parece-me que você e o seu pai fazem parte do inventário. No contrato de compra e venda, especifica-se que todo o pessoal manterá os seus postos de trabalho para garantir um bom processo de mudança. Não faz parte do pessoal?

– Sou mais do que uma empregada. Talvez na sua terra costumem comprar e vender pessoas, mas neste país já superámos essas práticas ancestrais.

– Tenha cuidado, menina O’Sullivan. Está a ir demasiado longe. A sua insolência é intolerável. Eu não gosto de ter empregados que respondem grosseiramente e que utilizam cães de caça para intimidar.

Iseult ruborizou-se.

– Murphy não é um cão de caça. Simplesmente, é um pouco protetor. O seu assistente entrou numa propriedade privada e eu estava aqui sozinha.

– Você ignorou um pedido formal para visitar a quinta, embora toda a gente soubesse que estavam prestes a pô-la à venda.

Iseult não foi capaz de o olhar nos olhos.

– Tenho de lhe recordar que muito em breve serei o dono de tudo o que vê à sua volta e que poderia expulsá-la daqui para sempre?

Algo brilhou naqueles olhos insondáveis. Inclusive poderia ter dito um palavrão entredentes.

Iseult retrocedeu e Nadim parou.

De repente, sentiu o impulso de se desculpar, mas reprimiu-o. Não recordava a última vez que tivera de se desculpar. Além disso, não tinha de se rebaixar falando com alguém como ela. Era apenas uma empregada, uma entre milhares espalhados por todo o planeta.

Entregou-lhe as rédeas por fim.

– Devil’s Kiss viajará amanhã. Certifique-se de que esteja pronto.

Capítulo 2

 

Pouco depois, Iseult entrou em casa pela porta das traseiras. Tirou as botas com brutalidade e dirigiu-se para a cozinha. A senhora O’Brien, a governanta, parecia um pouco nervosa e Murphy interpunha-se no seu caminho.

Iseult afastou-o e virou-se para ela.

– O que aconteceu?

A mulher soprou para afastar o cabelo da cara.

– O teu pai disse-me há pouco mais de uma hora que o xeque vai almoçar aqui, com ele e os advogados. Isso significa que tenho de cozinhar para cinco. Não me lembro de ter tido de cozinhar para tanta gente desde que os meninos foram para a universidade.

Os meninos, como ela lhes chamava carinhosamente, eram os seus irmãos mais novos, Paddy Junior e os gémeos, Nessa e Eoin.

Iseult sentiu raiva novamente, mas agarrou num avental e dispôs-se a ajudar a senhora O’Brien. A mulher agradeceu-lhe com um sorriso.

Mais tarde, à frente da porta da sala de jantar, com uma terrina de sopa nas mãos, Iseult hesitou. Do outro lado da porta ouvia-se a voz profunda e sensual do xeque. Sensual? Quando se tornara sensual? Cerrou os dentes, esboçou o seu melhor sorriso e entrou.