cover.jpg

portadilla.jpg

 

 

Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Carol Culver

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

A paixão do xeque, n.º 1433 - Junho 2014

Título original: Her Sheikh Boss

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Este título foi publicado originalmente em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5134-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

– Boas notícias.

Claudia afastou a vista da sua secretária e olhou para o seu chefe o xeque Samir Al-Hamri, que estava de pé junto à porta do seu escritório, com os braços cruzados e um sorriso radiante no seu rosto atraente e irresistível...

– A fusão está em marcha?

Estavam há meses a trabalhar naquele assunto com uma empresa de transportes rival do seu país, Tazzatine.

– Finalmente. Foi um longo caminho e não teria conseguido sem ti.

Claudia corou ao ouvir o seu elogio. Sabia que valorizava a sua inteligência, a sua disposição para trabalhar muitas horas e a sua dedicação ao trabalho. Contudo, não gostaria tanto se conhecesse a sua devoção por ele. Tentara tratá-lo como outro chefe qualquer, no entanto, como podia fazê-lo se ele não era como os outros chefes?

Era um xeque, um membro da família real do seu país, com mais dinheiro do que alguém poderia gastar na sua vida, para além de ter um físico impressionante, uma boa educação e um grande sentido de humor. Para além disso tudo, era um homem generoso. Como podia esquecer como era esplêndido quando lhe aumentara o salário sem sequer lhe ter pedido que o fizesse? A única coisa em que não era generoso era nas férias. Ele não tirava férias e também não entendia porque ela tinha de o fazer.

Claudia não se importava. Se fosse de férias, não poderia vê-lo todos os dias. Não poderiam falar sobre as novas rotas de transporte, sobre o produto interior bruto dos países em desenvolvimento ou sobre a flutuação dos preços do petróleo. Com que outra pessoa poderia falar sobre as fontes de energia alternativas ou sobre o futuro dos navios de carga? Claro que não poderia fazê-lo com ninguém do seu clube de costura nem do seu clube de leitura. Quem poderia pensar que aqueles assuntos interessariam a uma licenciada em Filologia de vinte e oito anos como Claudia?

Ao princípio, quando aceitara aquele emprego, fora apenas isso, um emprego com um bom salário. Contudo, trabalhar com Samir abrira-lhe os olhos. O seu entusiasmo pelo transporte internacional era contagioso, por isso ela desenvolvera um grande interesse pelo seu trabalho e pelo futuro do negócio familiar de Samir.

– A tua família deve estar muito contente.

Ele ficou pensativo durante alguns segundos, aproximou-se da janela e ficou a olhar para o reflexo do sol sobre a baía de São Francisco.

– Sim – disse. – Estão muito satisfeitos. É o final de uma era, o final das hostilidades e das rivalidades entre os Al-Hamri e os Bayadhi, mas...

Claudia ficou à espera que acabasse a frase, porém, não o fez. Alguma coisa estava errada. Conhecia-o muito bem e sabia que, naquele momento, devia estar a falar ao telefone, a telefonar aos seus amigos, a fazer planos e a partilhar aquelas notícias com toda a gente, incluindo com a imprensa. No entanto, estava ali de pé, perdido nos seus pensamentos.

– E os documentos? – perguntou, levantando o relatório que incluía o contrato. – Ainda não temos nada assinado.

Talvez fosse isso, talvez não quisesse dar o acordo por fechado até que fosse oficial.

– O acordo será assinado nos escritórios centrais de Tazzatine no dia vinte e um deste mês – respondeu, olhando para a fotografia da sede central da empresa de transportes Al-Hamri, rodeada de edifícios residenciais, um complexo desportivo e um centro comercial. – Por enquanto, temos a sua palavra e eles têm a nossa.

– Devias estar a celebrar. Queres que reserve uma mesa no La Grenouille para esta noite?

Ele virou-se e olhou para ela durante alguns segundos antes de falar.

– Claro – disse finalmente. – Porque não? E reserva dois bilhetes em primeira classe para Tazzatine para o dia... – atravessou o escritório até chegar ao calendário que estava pendurado na parede. – Para o dia quinze. Não marques data de regresso.

Claudia anotou a data no seu caderno de notas.

– Dois bilhetes?

– Sim, um para ti e outro para mim.

– Queres que vá contigo? – perguntou, boquiaberta. – Não podes estar a falar a sério.

Nunca saíra de Silicon Valley durante os dois anos em que estava a trabalhar ali. Agora, ia percorrer meio mundo.

– Claro que sim. Foste tu quem redigiu a proposta. Sabes os detalhes todos do contrato. Não podes estar a pensar que vou assinar os papéis sem que estejas presente, pois não?

– Eu...

– Especialmente sendo uma coisa tão importante. Quem sabe o que poderia acontecer no último minuto, que mudanças poderiam ser precisas? Preciso que estejas lá, pois os detalhes não são o meu forte.

Tinha razão. Ele tratava das grandes ideias e ela ocupava-se dos detalhes. Faziam uma boa equipa.

– Acho que devia ficar no escritório. Se precisares de mim, podes sempre telefonar.

– Não me parece boa ideia. Tens de estar presente. Não te preocupes, é um país muito moderno. Não tens de usar véu. As mulheres conduzem, vão às compras, nadam, jogam golfe... Pelo menos, na capital.

Não estava preocupada com o facto de ter de usar véu ou de não poder jogar golfe. Estava preocupada com a ideia de estar no seu país, vê-lo com a sua família e aperceber-se de uma vez por todas que era uma estúpida por estar apaixonada pelo seu chefe. Um chefe que algum dia governaria um país e cuja família teria certas expectativas relativamente a ele.

Iria sentir-se como uma intrusa. Não tinha dúvida nenhuma de que seriam amáveis com ela. Ouvira histórias acerca da sua hospitalidade lendária. Contudo, ela era uma estranha e, com o tempo, isso ia tornar-se óbvio.

Talvez estivesse mesmo a precisar disso, descer à realidade e deixar de imaginar que, algum dia, ele ia levantar a vista da sua secretária e reparar nela.

Abanou a cabeça para afastar aqueles pensamentos. Isso nunca ia acontecer. Ele não estava apaixonado por ela e nunca ia estar. Segundo constava, o seu chefe nunca tinha estado apaixonado por ninguém e não fora por falta de oportunidades. Muitas mulheres ficariam muito satisfeitas por se apaixonarem por ele, mulheres muito bonitas e socialmente destacáveis como as que via nas colunas da sociedade dos jornais.

Se nunca se apaixonara por nenhuma delas, como podia alguém como ela ter uma oportunidade com ele? Estava longe de ser bonita. Era uma mulher muito simples. As mulheres com quem ele saía usavam roupas de estilistas, enquanto a sua roupa era normal. As suas famílias eram a crème de la crème da sociedade de São Francisco. A sua estava muito longe de ser importante.

Não tinha intenção de mudar e, mesmo que quisesse, como conseguiria fazê-lo? O que diria ele se, de repente, a visse com um vestido justo e sapatos de salto alto, com um corte de cabelo atrevido e a cara maquilhada?

Era suficiente que a respeitasse, que contasse com a ajuda dela e que dependesse dela. Tinha de ser suficiente, visto que isso era tudo o que ia haver entre eles.

– O que se passa? – perguntou, inclinando-se sobre a mesa para olhar para ela nos olhos. – Estás a milhares de quilómetros daqui. Ouviste alguma coisa do que eu disse?

– Sim, claro – disse, levantando-se para se afastar do seu olhar penetrante.

Queria afastar-se do seu encanto masculino e da doçura da sua voz com aquela ligeira pronúncia estrangeira devido ao facto de ter estudado em vários países. Aquele não era o momento adequado para se recusar a viajar com ele para Tazzatine, não quando se sentia tão atordoada.

– Não vejo a necessidade de...

– Não sei porque estás preocupada. O avião é bastante confortável e é um país fascinante, uma mistura entre o moderno e o tradicional.

– Eu sei. Falaste-me muito sobre a cidade moderna, sobre o deserto, sobre o oásis e sobre os cavalos que crias. Tenho a certeza de que é um lugar muito bonito, mas...

– É um mundo diferente do mundo em que vivemos – disse. – Tens de o ver para o apreciar. Tens de ver tudo, não só os novos edifícios, o deserto ou a casa da minha família no oásis. Também poderás conhecer pessoas novas, como a minha família. E a família Bayadhi. É uma boa oportunidade para perceberes como este acordo é importante para todos. Sim, vens comigo.

Está bem, talvez tivesse de ir. Talvez fosse uma oportunidade única para conhecer o seu mundo através dos seus próprios olhos. Como podia recusar-se quando estava a olhar para ela daquela forma? Tinha uns olhos castanhos tão profundos e escuros que qualquer mulher desejaria perder-se neles. O seu cabelo escuro costumava cair sobre a sua testa até que o punha para trás com um gesto impaciente. O seu queixo era muito firme. Tinha mais determinação do que dez homens juntos. Alguns chamavam-lhe arrogância, pois, quando Samir Al-Hamri queria alguma coisa, conseguia sempre.

– Está bem, eu vou – disse.

– Sabia que podia contar contigo.

É claro que sabia. Quando lhe dissera que não a alguma coisa? Ninguém dizia «não» ao xeque Samir Al-Hamri. A ideia de o fazer era simplesmente absurda.

– Preciso de um café – disse, desesperada por se afastar dele. – Queres que te traga um?

– Sim, obrigado. Com leite e duas colheres de açúcar.

Ela sorriu. Depois de dois anos a trabalharem juntos, pensaria mesmo que não sabia como gostava do seu café? Como se não soubesse que preferia a mostarda à maionese nas suas sandes, ou Merlot a Cabernet, ou o circo à ópera.

– Claudia?

Ela virou-se e parou junto da porta.

– Mais uma coisa. Enquanto estivermos em Tazzatine, vou oficializar o meu noivado.

Ela agarrou na maçaneta e apertou-a com todas as suas forças, enquanto sentia que a divisão começava a andar à roda. Respirou fundo e obrigou-se a mostrar-se calma.

– Parabéns – balbuciou. – Isso é... uma surpresa.

– Nem por isso. Há muito tempo que andávamos a tratar disto. As nossas famílias são velhas amigas. É apenas uma formalidade.

– Apenas uma formalidade – murmurou. – Que bom!

Claudia aproximou-se de uma das poltronas de pele que havia junto da parede do seu escritório e sentou-se um momento para recuperar o fôlego, pelo menos, até que as suas pernas deixassem de tremer. Foi tudo o que conseguiu fazer para se mostrar interessada pela notícia.

– Vais ficar noivo – repetiu, como se estivesse a assimilar a ideia.

Talvez não tivesse ouvido bem. Não era possível que fosse comprometer-se sem que ela soubesse. Abria toda a sua correspondência, atendia os seus telefonemas e revia o seu correio eletrónico.

– Quem é ela?

– Chama-se Zahara Odalya – respondeu e, levando a mão ao bolso do seu casaco, tirou uma fotografia.

Claudia não conseguia acreditar no que estava a dizer-lhe. Levava uma fotografia dela no bolso. Aquilo deixou-a doente. Ninguém guardaria uma fotografia da sua noiva no bolso a menos que estivesse apaixonado por ela. Estaria o seu chefe apaixonado? Parecia que sim.

– Olha – disse, entregando-lhe a fotografia de uma mulher morena, muito bonita, com uma expressão fria no seu rosto impecável.

– Oh! É muito bonita – disse Claudia, sem saber como fora capaz de articular palavra com o nó que sentia na garganta.

– Parece que sim.

– Não a conheces?

– Há muito tempo que não a vejo. Da última vez que a vi, era uma menina que ainda brincava com a minha irmã. Foi estudar para Londres quando eu estava em Paris e nunca mais voltei a vê-la.

– Surpreende-me que ainda não se tenha casado – murmurou Claudia.

Qualquer mulher com aquele aspeto, um membro da alta sociedade do Médio Oriente, já deveria estar casada.

Tirou a fotografia da mão de Claudia e estudou-a com o sobrolho franzido.

– Também acho. Parece que se reservou para mim. Porque não? – perguntou, encolhendo os ombros. – Toda a gente diz que fazemos um casal lindo. As ligações familiares são muito importantes no nosso mundo, vais ver.

Não, não ia ver. Não ia percorrer meio mundo para ver o seu chefe a comprometer-se com alguém que não amava ou que não o amava a ele. Ela era uma empregada leal, no entanto, não era masoquista.

– Sam, não posso mesmo ir contigo.

Era muito difícil para ela chamar-lhe Sam, contudo, ele insistira para que o tratasse por tu.

Ficou parado, com uma sobrancelha levantada, esperando que lhe dissesse porque não podia ir com ele. A cabeça de Claudia andava às voltas. Tinha de lhe dar uma boa desculpa. Ele conseguia ser muito insistente, porém, ela tinha de ser mais ainda.

– Tinha um compromisso prévio.

– Que tipo de compromisso? O teu compromisso é comigo e é uma obrigação do teu trabalho.

– Eu sei. Sempre foi, mas vou ser dama de honor no casamento da minha amiga Susan, que vai casar-se precisamente nesses dias.

Tinha uma amiga chamada Susan, contudo, ainda não ia casar-se. Pela expressão do seu rosto, era óbvio que não acreditava nela, contudo, não podia demonstrar-lhe o contrário.

– Que coincidência! A tua amiga vai casar-se precisamente quando se vai formalizar a fusão. Pergunto-me porque ainda não o tinhas mencionado.

– Lamento muito, devo ter-me esquecido. Devia ter-me lembrado – disse Claudia. – Deve ser por causa do mês de junho. Toda a gente se casa em junho.

– Até tu?

Claudia mordeu o lábio inferior. Sam sabia do seu casamento breve pelo questionário que tivera de preencher quando se candidatara àquele emprego. Era uma coisa de que não gostava de falar e em que mal pensava.

– Casei-me em setembro e divorciei-me em dezembro. Não me parece que isso conte.

– É esse o problema? – perguntou, dirigindo-se para a mesa de Claudia. – Tiveste um mau casamento e receias que eu cometa o mesmo erro.

Estava tão longe da realidade que Claudia quase se riu.

– Tenho a certeza de que não será o mesmo – disse.

O seu marido enganara-a mesmo antes de se casarem e depois abandonara-a. Porém, nunca ia contar a Sam aquela parte tão humilhante da história.

– Tenho a certeza de que serás muito feliz.

– Como podes ter tanta certeza? – perguntou.

Claudia olhou para a porta. Porque não saíra para ir buscar o café antes de começar aquela conversa?

– Porque não tens sonhos. És consciente da obrigação que estás a assumir e ela também.

– E tu não?

– Pensei que estava apaixonada.

– O que te fez pensar isso?

Ela levantou-se e dirigiu-se para a porta, decidida a sair do escritório.

– Porque pensam as pessoas que estão apaixonadas? – perguntou, impaciente. – Os seus corações batem mais depressa, estão o dia todo nas nuvens, não conseguem dormir nem comer nem concentrarem-se. Pensam que não podem viver sem a outra pessoa.

– Parece maravilhoso – disse com um sorriso sarcástico. – Ainda bem que nunca me aconteceu.

– Tens sorte. Nunca terás de sofrer.

– Como aconteceu contigo.

Ela abriu a boca para dizer que não, porém, decidiu não o fazer.

– Isto não tem nada que ver comigo. És tu quem vai comprometer-se e fico contente por ti. Terás uma festa muito bonita com toda a tua família.

– E contigo. Tu também vais.

– Não, não vou, já te disse que não posso.

– Não posso acreditar que continues decidida a manter outras obrigações. Pensei que eu significava mais para ti. Sempre fui justo contigo, não fui? – perguntou, inclinando-se sobre a mesa e observando-a com o seu olhar intenso.

Ela suspirou.

– Sim.

– Nunca te pedi nada fora dos limites. Bom, talvez daquela vez em que me tiraste daquele leilão de solteiros, simulando uma indisposição repentina. Toda a gente se sentiu mal por isso.

– Sentiram-se mal porque não ficaste no leilão, não porque eu estivesse doente.

– Isso não é verdade. Recebeste uma dúzia de cartões a desejarem-te uma recuperação rápida. Diz a verdade. Deves-me muito. Não há casamento nenhum. Apenas não queres ir conhecer o meu país. Não queres estar presente quando assinarmos os papéis. Não te interessas pela minha vida pessoal e eu entendo. Mas esta viagem é principalmente um assunto de negócios e quero que estejas ao meu lado. Preciso de ti. Porque não consegues entender isso?

Entendia. Sabia demasiado bem que vê-lo a celebrar o seu noivado com aquela mulher lindíssima seria como receber uma facada no coração.

– Está bem, vou dizer-te o motivo verdadeiro: tenho medo de andar de avião. Não queria dizer-te porque pensei que ias rir-te de mim. Conheço-te. Vais obrigar-me a fazer terapia para superar o medo ou para tomar algum tipo de medicação. Agora já sabes. Tenho acrofobia.

– O que é isso? Medo dos sequestros ou das turbulências?

– De tudo isso.

– Foste a algum médico?

– Não há cura para o que tenho.

A única cura que havia para o seu mal de amores era deixar o trabalho e afastar-se do xeque mais sexy, mais rico e mais bonito do mundo. Isso era a única coisa que podia fazer, deixar o trabalho. Ou esperar que se fosse embora e deixar-lhe um bilhete na sua mesa que dissesse:

 

Lamento, Sam, mas não posso continuar a trabalhar para ti. Agora tens Zahara. Sempre soube que algum dia te casarias com ela, mas nunca disse uma palavra a esse respeito. Quando estiveres comprometido, tudo será diferente. Não vais querer trabalhar até tarde, nem me telefonarás para casa quando quiseres comentar alguma coisa sobre os negócios. Nada voltará a ser o mesmo. Tenho de ir enquanto consigo.

 

Não, nunca seria capaz de fazer isso. Nunca revelaria os seus verdadeiros sentimentos. O melhor que podia fazer era mentir.

– Talvez seja um problema de ouvido. Vou marcar-te uma consulta com um especialista.

– Não é necessário. Não vou contigo. Alguém tem de cuidar do escritório enquanto não estiveres aqui.

Quanto mais decidido estava ele, mais disposta estava ela a recusar-se. Por uma vez na sua vida, não ia deixar que levasse a sua avante. O que podia fazer? Amarrá-la e colocá-la no avião? Nem sequer ele estava tão decidido para fazer uma coisa assim. Claro que podia despedi-la por insubordinação, o que, se levasse a sua futura esposa para viver com ele, seria um favor enorme, poupando-lhe o trabalho de se demitir.

A ideia de imaginar a sua noiva a entrar e a sair do seu escritório durante horas, horrorizava-a. Zahara, ou qualquer outra mulher que se casasse com ele, iria telefonar várias vezes por dia e isso ia afastá-lo da sua vida social e, depois, dos seus negócios. Era incrível como a vida podia mudar para pior em apenas um minuto.

– Podemos contratar alguém para atender o telefone. Os outros empregados vão ficar aqui – garantiu Sam. – Podem ficar sozinhos. Somos uma pequena empresa familiar.

– Uma pequena empresa familiar? Com escritórios por todo o mundo e milhões de lucros?

– Está bem, somos um pequeno escritório de uma grande empresa.

– Vou buscar o café – disse.

– Está bem, mas pensa nesta conversa. Vens comigo, já está decidido.

Ao regressar, Claudia reunira toda a paciência do mundo e levara um café para Sam, contudo, ele já saíra. O bilhete que deixara na sua mesa dizia que tinha uma reunião. Reviu a sua agenda, porém, não viu nada marcado para aquela manhã.

Sentou-se à sua mesa, apoiou o queixo na mão e ficou a olhar para o retrato do avô de Sam, com a sua coroa, ao lado do seu cavalo favorito. O seu cavalo, não a sua esposa. Aquilo deveria dar-lhe uma ideia da vida familiar em Tazzatine. É claro que as coisas tinham mudado. No entanto, se Sam ia comprometer-se com alguém que não amava, que nem sequer conhecia porque fazia parte do plano da sua vida, então, os velhos costumes continuavam muito enraizados.

Não se importaria de conhecer o país, galopar num puro-sangue árabe pelas dunas. Sempre quisera dormir numa tenda árabe, beber chá de menta e comprar bagatelas no mercado e participar nas cerimónias que faziam parte da cultura de Sam, à exceção do seu noivado. Ele seguia os costumes ocidentais devido à sua educação e à sua forma de vida, contudo, eram as suas origens que o transformavam no homem mais irresistível que alguma vez conhecera.

Se fosse apenas uma viagem de negócios, já teria feito as malas e já estaria a falar com a linha aérea. Contudo, não era e nenhuma mulher devia estar presente quando o homem que amava se comprometesse com outra mulher.

A culpa por se ter apaixonado por alguém tão inalcançável era dela. Em que estava a pensar? Já fora abandonada por um imbecil. O seu ego não conseguiria suportar mais, por isso, Sam nunca deveria saber o que sentia por ele.

Até ao momento, não fora difícil manter o seu segredo, nem sequer quando tinham ficado a trabalhar até tarde no escritório, nem quando a levara a casa depois, nem quando levara documentos importantes às suas águas-furtadas à noite. No entanto, estar com ele num país estranho, enquanto ele fazia planos para o seu casamento... Isso era algo que não estava disposta a fazer. Tinha de se livrar daquela situação. Nem sequer lhe perguntara quando seria o casamento. Também não queria saber.

O telefone tocou e era a irmã de Sam, Amina.

– Lamento muito, mas Samir não está no escritório.

– Ótimo, porque é contigo que quero falar – disse Amina. – Temos um problema. O que vou dizer-te tem de permanecer em segredo. Promete-me que não vais dizer uma única palavra sobre isto a Sam.

Claudia apertou o auscultador com força. Como podia recusar-se? O que era mais um segredo?