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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Harlequin Books S.A. Todos os direitos reservados.

FILHO DO DESERTO, Nº 357 - Agosto 2013

Título original: The Sheikh’s Love-Child

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2010

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™, Harlequin, logotipo Harlequin e Harlequin Euromance são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3387-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

– Lamento muito.

Essas duas palavras pareciam ecoar pelo quarto do hospital, embora o homem que as pronunciara já não estivesse presente.

Havia uma nota de compaixão na voz do cirurgião, uma nota de piedade que enfurecera Khaled, prostrado na cama, vendo como abanava a cabeça antes de se ir embora, deixando-o com o seu joelho destruído, a sua carreira acabada. Os seus sonhos esquecidos.

Não tinha de olhar para o relatório médico para o sentir, literalmente, nos ossos. Era um homem destruído, o diagnóstico inevitável.

Na rua, as nuvens cinzentas obscureciam o céu de Londres.

O príncipe Khaled el Farrar desviou o olhar da janela, cerrando os punhos para suportar a dor. Recusava-se a tomar analgésicos porque queria saber com que lidaria para o resto da sua vida.

Agora sabia: não havia nenhuma esperança. Nenhuma operação poderia fazer com que recuperasse a sua carreira no mundo do râguebi ou dar-lhe um futuro, alguma esperança. Com vinte e oito anos, era um homem fracassado.

Depois de bater à porta, Eric Chanceler, um colega de equipa, espreitou no quarto.

– Khaled?

– Disseram-te? – murmurou, sem olhar para ele.

– O cirurgião contou-me, mais ou menos.

– Há mais – replicou Khaled, cerrando os dentes. A dor estava a tornar-se uma agonia e tinha de cravar as unhas nas palmas das mãos para conseguir suportá-la. – Nunca mais voltarei a jogar râguebi. Nunca mais... – não conseguiu acabar a frase porque acabá-la faria com que tudo fosse real.

Eric não disse nada e Khaled agradeceu o seu silêncio. O que podia dizer? O médico dissera tudo: «Lamento».

Mas isso não servia de nada. Não recuperava o seu joelho destruído ou o seu futuro como um homem completo. Não evitava que se perguntasse quanto tempo teria antes de a doença o levar.

– E Lucy? – perguntou Eric, então.

Lucy. Porque é que Lucy quereria estar com ele?, perguntou-se Khaled, com amargura.

– Lucy?

– Quer ver-te.

– Assim? – Khaled apontou para a sua perna. – Não, não me parece.

– Está muito preocupada contigo.

Ele abanou a cabeça. Lucy sentia alguma coisa, talvez amor, pelo homem que fora, não pelo homem que era naquele momento. E, pior ainda, o homem em que ia transformar-se. A ideia de ser rejeitado fez com que cerrasse os punhos com mais força.

– E tu também, pelos vistos.

Doía-lhe tudo. Não conseguia suportar tanta dor, física e emocional.

– Khaled...

– O que é Lucy para ti? – interrompeu-o ele, então.

– Nada – respondeu o seu amigo. – O importante é o que ela é para ti.

Khaled virou a cabeça para olhar para a janela. A névoa começava a descer sobre a cidade, espessa e cruel, escurecendo a paisagem. Imaginou Lucy com o seu cabelo escuro, o seu ar de serenidade, o seu sorriso repentino. Apanhara-o de surpresa com aquele sorriso e sentira que alguma coisa mudava por dentro. Quando Lucy sorria, sentia que estava a entregar-lhe um tesouro.

Ela era a fisioterapeuta da equipa de râguebi de Inglaterra e fora a sua amante durante dois meses.

Nunca mais voltaria a jogar râguebi, nunca mais voltaria a ser o homem que fora, o homem que todos admiravam. Doía-lhe no seu orgulho, é claro, mas também era mais profundo.

Tinham-lhe tirado tudo de uma vez.

Pensou na chamada ao seu pai, na vida que o esperava no seu país, Biryal. Outra sentença.

Khaled sabia que a sua vida, que criara em Inglaterra, acabara para sempre.

– Não é assim tão importante para mim – disse finalmente, embora lhe custasse dizê-lo, fingir que era verdade. – Onde está?

– Foi para casa.

– Não podia esperar, claro.

– Estiveste na sala de cirurgia durante muitas horas.

– De qualquer forma, não quero vê-la.

– Mas têm uma relação e ela não merece que a trates assim...

– Não quero ver ninguém.

– Muito bem. Talvez amanhã?

– Não, nunca.

A negativa ecoou pelo quarto com uma finalidade amarga, como as palavras do médico: «Lamento».

Também lamentava, mas isso não mudava nada.

Do outro lado do quarto, Eric olhava para ele com um ar de recriminação.

– Khaled...

Ele fez um gesto com a cabeça. Não queria que Lucy o visse assim, não queria ver compaixão nos seus olhos. E não queria que receasse magoá-lo.

Não conseguiria suportar essa situação e não o faria. Tinha de tomar uma decisão e foi fácil.

– Já não há nada aqui para mim, Eric. É hora de voltar para Biryal para cumprir com as minhas obrigações.

Khaled imaginou a sua vida a partir daquele momento: um príncipe deficiente a aceitar a compaixão do seu povo e a condescendência do seu pai, o rei.

Era impossível, insuportável, mas a alternativa era ainda pior: ficar e ver como os seus amigos e a sua amante seguiam em frente com as suas vidas sem ele. Tentariam acompanhá-lo, dar-lhe parte do seu tempo, mas ter-se-ia transformado num estorvo e odiá-los-ia por isso. E odiar-se-ia também.

Vira-o antes. Vira como se apagava a vida da sua mãe, rodeada da compaixão dos outros. Isso fora muito pior do que a doença.

Era melhor ir para casa. Sempre soubera que algum dia teria de voltar para Biryal, mas não esperara que fosse assim, a coxear, ferido e envergonhado.

A dor era tão insuportável que tinha vontade de gritar, mas não o fez.

– Khaled, devias tomar alguma coisa para a dor...

– Não, deixa-me – murmurou, tentando respirar. – E não... não fales com Lucy. Não lhe digas nada – não conseguiria suportar que o visse assim, mesmo que soubesse como estava.

– Mas ela quererá saber...

– Não pode saber. Não seria justo – os seus olhos ardiam, de modo que Khaled desviou o olhar.

Alguns segundos depois, enquanto mordia o lábio para não chorar, Eric saiu do quarto.

E só então é que se deixou levar pela dor enquanto as primeiras gotas de chuva batiam na janela.