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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Helen Brooks

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Confia em mim, n.º 2197 - janeiro 2017

Título original: A Ruthless Agreement

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9456-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

«Estou a fazer o correcto? E se for assim, porque não me parece? Porque sinto que estou à beira de um precipício?». As perguntas formavam redemoinhos na sua cabeça. Estava assim há vinte e quatro horas, mas a fachada mantinha-se intacta. Quem olhasse para ela veria Melody Taylor calma como sempre. Não era o tipo de mulher que tinha ataques de pânico.

«Pediste-lhe para vir porque é o melhor advogado que há e é o que a tua mãe precisa neste momento. As questões pessoais não são para aqui chamadas, portanto controla-te». A sua própria reprimenda fez com que cerrasse os dentes num gesto decidido enquanto a sua mente trabalhava a toda a velocidade. «Vais demonstrar-lhe que estás muito bem sem ele, está claro? Será fácil se te mantiveres firme. Enfrentas situações difíceis todos os dias, portanto consegues enfrentar Zeke Russell».

A reflexão foi interrompida quando a porta da sala se abriu para a sua mãe entrar. Ao ver a expressão que tinha na sua tez pálida, Melody apressou-se a aproximar-se dela.

– Não faças essa cara. Vai correr tudo bem, prometo – replicou, num tom de voz suave, mas firme.

– Não podes ter a certeza disso, Melody.

– Eu acredito e tu também deves fazê-lo. Com alguém como ele, temos meia batalha ganha.

– Oh, querida, o que faria sem ti? – perguntou Anna Taylor, dando um beijo fugaz na face da sua filha.

A expressão de carinho revelou a sua angústia. Melody sempre soubera que a sua mãe a amava, mas Anna não o expressava fisicamente. As duas mulheres entreolharam-se por um instante e Anna continuou:

– Eu também não gosto que tenhas de pedir um favor a Zeke depois do que se passou.

– Não vou pedir-lhe um favor. Explicar-lhe-emos a situação e, se achar que pode aceitar o caso, pagar-lhe-emos como qualquer outro cliente faria.

– Sabes o que quero dizer.

Sim, Melody sabia e se tivesse havido alguma outra saída, teria optado por ela. Mas não havia. Ele não tinha rival como advogado e ganhava casos que todos assumiam que não tinham hipótese. A verdade era essa, por muito irritante que fosse. Melody encolheu os ombros.

– Acedeu a vir, portanto pelo menos não temos de ir ao seu escritório – redarguiu. Não acrescentou «e ver Angela», mas era algo que estava na mente de ambas. Angela Brown era a secretária sexy de Zeke, para além de ser a sua amante… se a sua aventura ainda continuasse. Melody apagou a outra mulher da sua mente. Já bastava concentrar-se na chegada iminente de Zeke.

A campainha da porta deixou-as geladas por um segundo, mas Melody recompôs-se.

– Deve ser ele – indicou com calma, como se o seu coração não estivesse acelerado. – Porque não vais pôr a cafeteira ao lume enquanto vou abrir-lhe a porta?

Os seus lábios suaves e carnudos ficaram tensos ao ouvir outro toque. Enérgico, decidido, arrogante… Obviamente, Zeke não mudara nos seis meses que tinham passado desde que se tinham visto pela última vez. Quando a sua mãe fugiu para a cozinha, Melody saiu para o hall, respirou fundo, esboçou um sorriso amável e abriu a porta. Esbugalhou os olhos, mas pensou que o homem de pé na soleira não se apercebera. Embora se tivesse preparado toda a manhã para aquele momento, vê-lo ali, deixara-a com falta de ar.

– Olá, Melody… – murmurou a profunda voz masculina. Só um sotaque quase imperceptível revelava as suas origens. – Como estás?

– Estou be… bem – gaguejou, mas num tom firme perguntou-lhe: – E tu?

– Pergunto-me a que se deve a tua chamada misteriosa – a sua cabeça inclinou-se num gesto característico nele quando a sua inteligência tentava dar sentido a alguma coisa. – Acho que Anna tem algum tipo de problema, não é?

– Entra – convidou ela com amabilidade, enquanto tentava ignorar o efeito que a presença dele tinha nela.

Com quase dois metros, Zeke era mais alto do que a maioria dos homens e era musculado. No entanto, ela sabia por experiência que não havia gordura no seu corpo: os seus ombros e o seu peito eram revestidos de músculo puro. A sua cara, de ângulos definidos, era mais atraente do que de aparência agradável e a impressão geral de cinismo implacável estava gravada em cada um dos seus traços. Mas os seus olhos… os seus olhos sempre tinham tido o poder de fazer com que lhe fraquejassem as pernas. Eram de um tom curioso entre o dourado e o âmbar, com umas pestanas densas e pretas como o carvão a condizer com o seu cabelo de corte severo. Aqueles olhos podiam enfeitiçar uma pessoa sem esforço aparente, facto que ele aproveitava no tribunal com efeitos devastadores ao enfrentar testemunhas da acusação.

Zeke entrou no hall, ela fechou a porta e virou-se para ele, dando voltas à ideia. Pensou com ironia que, quando a sua relação acabara, se sentira como um daqueles pobres desgraçados. Fora então que percebera realmente porque o consideravam um advogado tão extraordinário, apesar de ser relativamente jovem, com trinta e cinco anos.

Zeke esperou que ela entrasse na sala primeiro. Melody teve cuidado para não tocar nele ao passar, mas não conseguiu evitar sentir fugazmente o cheiro delicioso da sua loção pós-barba e isso fê-la sentir um nó no estômago enquanto o seu coração acelerava.

«Calma, rapariga, calma», avisou-se silenciosamente enquanto ele a seguia até à sala espaçosa. «É perito em ler a expressão dos outros para saber o que pensam, não deixes entrever nada ou arrepender-te-ás».

– Senta-te, Zeke. A minha mãe já traz o café.

Ainda não acabara de falar quando a sua mãe apareceu na soleira com uma pesada bandeja com o café. Melody fez menção de ir ajudá-la, mas ele adiantou-se e pegou na bandeja.

– Permite-me. Tens bom aspecto, Anna – elogiou, com calma.

– Obrigada, tu também – Anna adoptara o papel de anfitriã e mantinha a sua angústia escondida.

Zeke Russell pôs a bandeja na mesa antes de se endireitar e observar as duas mulheres, que ainda eram tão parecidas como duas gotas de água. Bastava olhar para a mãe para saber como seria Melody daí a vinte anos, mesmo com cinquenta anos, Anna era muito bela, com o seu cabelo loiro brilhante e sedoso, cortado por mãos peritas e com uma pele que só mostrava leves sinais de envelhecimento ao redor dos olhos. Altas, magras e de constituição delicada, teriam podido passar por irmãs, em vez de mãe e filha. Mas os seus olhos eram diferentes: enquanto os de Anna eram de um azul pálido e, às vezes, podiam ser frios, sobretudo quando se concentravam nele, os de Melody tinham um tom cinzento com um toque de paixão. O seu corpo ficou tenso, mas o seu tom manteve-se tranquilo quando perguntou:

– Como posso ajudar-vos?

– Eu trato do café. Explica-lhe o que se passou.

Quando se tornou evidente que Anna era incapaz de começar a falar, Melody olhou directamente para Zeke, indicando-lhe que se sentasse na cadeira em frente da sua mãe.

– Trata-se do negócio. Lembras-te de Julian Harper, o secretário da minha mãe?

Zeke assentiu. Claro que se lembrava do cachorro mulherengo de Anna. O pequeno indivíduo de cabelo oleoso era um indesejável, mas sempre que Zeke tentara expressar a sua opinião sobre ele, Melody defendera o homem.

– Julian é completamente leal à minha mãe – argumentara ela. – É o seu braço direito no negócio, para além de um bom amigo.

Zeke arqueou as sobrancelhas quando Melody teve dificuldades em continuar e ele encorajou-a, com calma.

– Julian?

– Forjou as contas – interrompeu Anna, num tom de voz forte.

Ele reconheceu o tom, pois raramente se dirigiu a ele de outro modo. Virou-se para ela, mas Anna recusava-se a olhar para ele nos olhos.

– Entre outras actividades comerciais duvidosas – continuou ela, com aspereza. – Pedidos falsos, notificações alteradas, materiais de qualidade inferior… – respirou fundo, – e foi muito inteligente, fazendo com que pareça que eu também estou envolvida.

– Como? – Zeke endireitou-se na sua cadeira. – Falsificando a tua assinatura?

– Não, eu… aparentemente, assinei coisas indevidas. Ele trazia-me imensos documentos e se estava ocupada… – o seu tom de voz diminuiu, mas acrescentou: – Eu assinava-os sem os ler.

Zeke olhou para ela, atónito. Considerava Anna Taylor uma das mulheres mais fortes que conhecera, uma bonita rainha de gelo com um coração gélido. Sentia um profundo desagrado por ela e sabia que o sentimento era mútuo. Se lhe tivessem dito que a mãe de Melody alguma vez assinaria um papel sem o ler primeiro, ter-se-ia rebolado a rir-se. Dirigiu-lhe um olhar rápido e Zeke percebeu que a mulher sabia o que ele estava a pensar.

Melody quebrou o contacto quando lhe ofereceu uma chávena de café, simples e bem forte, como ele gostava. Naturalmente, quem melhor do que a sua antiga noiva para conhecer os seus gostos? As suas mãos tocaram-se por um segundo antes de ela afastar as dela com um movimento tão brusco, que o café esteve prestes a ir parar às suas calças. Zeke sentiu uma pontada de satisfação perversa. Portanto, não estava tão calma como queria dar a entender?

– Deduzo que o assunto se tornou público?

– Um dos meus principais clientes afirma que alguns materiais defeituosos que lhe demos custaram centenas de milhares – explicou, sem rodeios. – E não duvido, já que era um pedido especial para uma nova linha de móveis de sala que estavam a vender. Em questão de meses, o material começou a deteriorar-se. Tiveram de retirar todos os móveis, claro, mas a sua reputação ficou danificada. Quando o assunto se tornou público, ofereci-lhes uma compensação económica, mas querem um bode expiatório e vão levar-me a julgamento.

Zeke assentiu, sentindo uma certa satisfação ao vê-la naquela situação. Se não fossem as intromissões da mãe de Melody, àquela altura a sua filha e ele estariam casados. Anna arranjara todo o tipo de ardis para os afastar desde o primeiro dia. Mas a sua cruzada contra ele não teria tido sucesso se Melody não o tivesse permitido. A sua expressão endureceu.

– A coisa não parece muito bem para ti, pois não, Anna? – murmurou, com suavidade.

– Eu sei! – exclamou ela.

Zeke viu que Melody olhava para a sua mãe com um olhar angustiado que dizia com clareza, «não percas o controlo, sê amável. Lembra-te do que está em jogo». E o que estava em jogo? O negócio têxtil de Anna? A empresa que criara doze meses depois de o pai de Melody as abandonar quando a sua filha tinha apenas três anos. Na sua opinião, o homem merecia uma medalha por aguentar tanto tempo!

– Zeke, tudo isto é tão injusto… A minha mãe pode perder tudo só porque confiou em Julian. Tu acreditas na sua inocência, não é?

Ele deixou que os seus olhos pousassem no rosto da sua antiga noiva. Estava corada e os seus olhos, entristecidos pela emoção, mostravam um grande desassossego. Estava tão bela que ele sentiu um nó no estômago. Esperou um segundo antes de responder, o tempo suficiente para que a sua resposta deixasse entrever uma certa falta de sinceridade.

– É claro.

– Sabia que isto era um erro.

O tom de Anna foi brusco, mas quando fez menção de se levantar, Melody parou-a com uma secura que Zeke nunca ouvira nela.

– Senta-te, mãe, e não sejas tola. Precisas mais de Zeke do que ele de ti.

Ele sentiu-se surpreendido pela segunda vez em tão poucos minutos. Durante os seis meses em que tinham estado juntos antes de ela acabar com o noivado e finalizar a relação, nunca vira Melody levantar o tom de voz com Anna. Na verdade, ele perguntara-se com frequência como resistira à pressão da sua mãe para que se juntasse ao negócio familiar. Aquela fora a única vez que Melody não cedera, seguira o seu próprio caminho, estudando Logopedia. Zeke conhecera-a quando ela trabalhava para um cliente dele que tinha surdez parcial.

Melody fixou o olhar no rosto de Zeke, consciente de que aquela fachada impassível escondia uma mente que trabalhava a toda a velocidade.

– Como te disse, a minha mãe pode perder tudo se as coisas correrem mal. Independentemente de acreditares ou não na sua inocência, aceitarás tratar da sua defesa?

Ele olhou para ela sem responder durante alguns segundos e, quando falou, o seu tom de voz foi igualmente calmo.

– Não defendo ninguém se pensar que é culpado, a não ser que existam circunstâncias atenuantes.

Melody engoliu em seco para desfazer o nó que se formara na sua garganta, rezando para que a sua mãe não voltasse a interromper.

– Isso é um sim ou um não?

Zeke respondeu, virando-se para Anna e olhando para ela directamente:

– Queres que te defenda? – perguntou, com serenidade. – Sei que Melody quer, mas qual é a tua opinião? Desejas realmente que eu seja o teu advogado?

– Sim – respondeu Anna, depois de um silêncio prolongado.

– Porquê?

– Porque concordo com Melody. És o melhor na tua profissão. Sou inocente e se há alguém que pode ajudar-me, és tu.

– Sabes que me deste a única resposta capaz de me convencer a aceitar o caso? – perguntou, com secura.

– É claro – respondeu Anna, no mesmo tom.

 

 

Meia hora depois, Melody acompanhava Zeke até ao seu carro, um desportivo vermelho, estacionado na pequena praça de betão que servia de jardim dianteiro da mãe dela. A sua mala estava cheia com os documentos que Anna lhe entregara e tinham concordado que no dia seguinte enviariam para o seu escritório de Kensington outros papéis que Zeke pedira.

O dia de Maio estava quente e tranquilo. As flores balançavam-se suavemente nas árvores e um pequeno bando de pardais chilreava nos ramos. Melody permaneceu no degrau de entrada da casa geminada que a sua mãe tinha em Beckenham, na área metropolitana de Londres, enquanto Zeke caminhava para o carro. O sol realçava o toque de cinzento no seu cabelo preto, o que só serviu para aumentar a sua beleza quando se virou para ela.

– Certifica-te de que a tua mãe compreende que não quero que fale disto com ninguém a partir de agora – declarou, com calma. – Se Julian sair da sua toca, ela não deve falar com ele. Está bem?

Melody assentiu. No dia em que descobrira o problema, Julian dissera estar maldisposto e na manhã seguinte chegara uma carta médica, dizendo que o paciente sofria de algum tipo de crise nervosa devida ao cansaço. Anna nunca mais voltara a vê-lo.

– Achas que consegues ganhar o caso? – perguntou Melody, sem rodeios. O seu tom controlado não escondia a sua ansiedade.

Zeke olhou para ela por um instante e, então, virou-se para ela. Melody humedeceu os lábios com nervosismo. Embora estivesse no degrau e Zeke na rua, ele parecia abater-se sobre ela.

– Ganho sempre – afirmou, com suavidade. Depois de uma pausa, acrescentou: – Excepto contigo.

O coração de Melody acelerou. Sabia que Zeke puxaria o assunto mais tarde ou mais cedo.

– Isso são águas passadas – declarou, tentando parecer tranquila.

– Nem pensar!

– Isto não se trata de nós.

– Estás errada – os bonitos olhos cor de âmbar estudaram os dela, – muito errada.

– Zeke, passaram seis meses. Segui em frente, tal como tu – Melody ouviu o tremor do seu próprio tom de voz e queria esbofetear-se. Quando se lidava com alguém como Zeke Russell, a fraqueza não era uma opção.

– Concordo… até certo ponto. Mas ainda existem assuntos pendentes entre nós. Talvez tenha sido por isso que ainda não saíste com ninguém?

– Como sabes disso? – perguntou, acaloradamente.

Ele limitou-se a observá-la com aquele olhar que a fazia lembrar-se dos grandes felinos. Algo no seu silêncio fez com que ela recuasse contra a parede quando percebeu.

– Espiaste-me! – acusou, atónita e furiosa. – Foi isso?

– Eu não lhe chamaria espiar – corrigiu, com indolência. – Só queria certificar-me de que não fazias nenhuma tolice depois de termos acabado.

– E porque te interessa? – de repente percebeu. – A menos que pensasses que isso danificaria a tua imagem. Uma mulher tem de demorar para esquecer Zeke Russell. É disso que se trata?

– Exactamente – ele teve a audácia de sorrir.

Melody contou até dez. Devia lembrar-se de que a sua mãe precisava que ele a defendesse.

– E como está Angela? – perguntou, com doçura. – Suponho que ainda é a tua secretária?

– Supões bem – respondeu e olhou para ela directamente nos olhos com um ar ininterpretável. – É muito boa no que faz.

– Não duvido – respondeu ela, com sarcasmo.

– Mas os seus serviços limitam-se, agora e sempre, à sua profissão de secretária. E se tivesses dois palmos de testa verias que é assim – a sua expressão tornou-se fria, sem rasto de diversão. – Qualquer outra coisa existe apenas na mente febril e retorcida da tua mãe.

– Como te atreves a dizer algo do género?! – gritou ela. – Já tem de lidar com bastante neste momento e não precisa de ouvir o seu advogado a chamar-lhe mentirosa.

– Surpreende-me que tenhas tanto sucesso no teu trabalho, se ouves tão mal – respondeu ele, com calma. – Não disse que era uma mentirosa. Disse que tem uma mente retorcida e, acredita em mim, podia dizer algo muito pior. Desde o nosso primeiro encontro, procurou uma arma para usar contra mim e sabes tão bem quanto eu. Quando lhe chegou uma intriga suculenta, uma intriga sem nenhum fundamento, baseada apenas no facto de Angela ser uma mulher muito bonita, agarrou-se a ela com o maior prazer.

O seu comentário sobre Angela ser uma mulher bonita foi como um pontapé no estômago. Nunca sentira tanta vontade de bater em alguém. Zeke era capaz de ficar ali e defender aquela mulher desprezível sem pestanejar, fazendo-a passar por uma santa!

– Tinhas centenas de candidatas para o lugar de secretária quando a senhora Banks se reformou – acusou, tensa, lutando para que o seu tom não denunciasse a sua dor. – Porque escolheste Angela Brown?

– Porque era a melhor – respondeu.

– Nessa altura, não me disseste que a senhora Banks se fora embora e que Angela ocupara o seu lugar – acusou, inexpressiva.

– Porque havia de falar de negócios quando existem um milhão de assuntos muito mais interessantes?

Tinha resposta para tudo! Melody evitou com dificuldade perder o controlo.

– Levaste-a contigo para Paris.

– A minha secretária acompanhou-me numa viagem de negócios ao estrangeiro. Há uma ligeira diferença. Mas já falámos de tudo isto.

A sua voz adoptara o tom impaciente que Melody recordava de antigamente.

– Esperava que a esta altura já tivesses percebido tudo – acabou ele.

Fazia com que parecesse que ele fora atrás dela! Olhou para ele com fúria, completamente indignada. Fora ela que entrara em contacto com ele devido ao julgamento da sua mãe. Não voltara a saber dele desde o dia em que lhe devolvera o anel. Nenhuma chamada, nem sequer um postal de Natal. Até àquele momento, Melody não admitira que se sentira magoada com a saída de Zeke da sua vida, mas ele ignorara-a por completo. No entanto… Hesitou um instante. Porque estivera a controlá-la todo o tempo? Porque ele podia brincar feliz com Angela, mas a sua noiva não podia fazer o mesmo, disse para si com amargura. Além disso, a sua última discussão não fora apenas devido à sua secretária.

– Enfim, como vai o teu novo trabalho? – perguntou ele, como se lhe tivesse lido o pensamento.

– Não é assim tão novo. Já lá estou há seis meses – ergueu o queixo, com um ar desafiante. – Estou muito contente.

Don Juan

Olhou para ele com atenção, procurando uma confirmação visual de que estava a brincar. Não podia estar a sugerir a sério que queria que ela jantasse com ele, pois não? Não depois do que se passara, nem mesmo Zeke Russell podia ser tão arrogante.

– Falo a sério, Melody – como sempre, parecia ler a sua mente. – Quero jantar contigo hoje.

– Nem pensar – respondeu ela, quando recuperou a voz.

– Que pena! – os seus olhos semicerram-se. – Mas posso sugerir outro advogado para a tua mãe.

– Não falas a sério. Não serias capaz de me chantagear para jantar contigo – estudou o seu queixo forte e as maçãs do rosto firmes.

– Chantagem é uma palavra inaceitável. Prefiro pensar que te estou a chamar à razão – corrigiu.

– Estás louco! – Melody não podia acreditar que estivesse a manter aquela conversa.

– Porquê? Porque quero expor os meus argumentos? Não me permitiste fazê-lo há seis meses, talvez seja preciso para que ambos superemos o que se passou.

– Eu já superei. Estou muito bem – sabia que o seu tremor era apreciável, mas não conseguia controlá-lo.

– Fico contente.

– Não quero jantar contigo, Zeke, não consegues entendê-lo? És o último homem na face da terra com quem quero sair – não sabia a quem estava a tentar enganar, se a ele ou a si própria.

Melody sentiu-se encorajada ao ver a reacção que relampejou nos olhos de Zeke antes de ele conseguir esconder a sua raiva; «como se atreve a pensar que pode entrar novamente na minha vida e dar-me ordens?», perguntou-se, ignorando o facto de ter sido ela a chamá-lo.

Não esperava que a abraçasse. Foi tal a surpresa que, por um instante, permaneceu terna e dócil contra o seu peito. Quando começou a resistir, os lábios de Zeke beijaram-na da mesma maneira possessiva de antigamente. A sua boca era quente e firme e ele abraçava-a de tal forma que podia sentir o que o seu corpo feminino provocava nele. Mesmo assim, os braços dele ficaram tensos e não parecia afectado pela sua própria excitação.

A sua força musculada, o cheiro da sua loção e o calor do seu corpo eram dolorosamente familiares. Quantas vezes sonhara com os seus beijos e as suas carícias nos últimos meses e acordara na solidão da sua cama com lágrimas a cair pelas suas faces? Não devia responder às suas carícias, mas o seu corpo não obedecia à sua cabeça. Como sempre, bastava um toque para fazer a paixão aparecer entre eles.

Quando Zeke levantou a cabeça, Melody sentia que o seu sangue fervia e a cabeça dava voltas, mas graças a uma força interior que desconhecia possuir, resistiu à tentação de retribuir o beijo. No entanto, a satisfação nos olhos dele deixava claro que ele sabia o efeito que causava nela. Melody ergueu o queixo num gesto orgulhoso.

– Há uma palavra para definir homens como tu!

– Eu sei – observou o seu rosto com um olhar calculista, – é «aproveitador». Enfim, temos jantar às oito. Virei buscar-te por volta das sete e meia. Espero que estejas pronta, eu não gosto que me façam esperar.

– Não podes dizer-me o que tenho de fazer.

– Na verdade, posso… se quiseres que ajude a tua mãe, claro. Pessoalmente, acho que seria bom Anna perder a empresa, para enfrentar o facto de ser humana como todos nós. Esteve demasiado tempo encerrada naquela torre de marfim que é a sua empresa.

Melody conseguiu controlar o seu temperamento com grande dificuldade. Odiava-o e muito! Como pudera achar que o amava? Ainda tentava encontrar uma resposta gelada quando Zeke se virou e foi para o seu carro. Por cima do ombro, exclamou:

– Às sete e meia, Melody! E veste algo elegante, vamos a um lugar especial!

– És… és desprezível…

Continuava à procura dos adjectivos apropriados quando ele se afastou com o carro. Sorrindo.