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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1997 Sharon K. Dennison

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Tempestade de neve, n.º 266 - novembro 2017

Título original: Wyoming Wife?

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-629-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Na vida organizada de Samantha Burkett não havia lugar para o que estava a acontecer. Encontrava-se à mercê de um estranho que a metera num helicóptero, após tê-la tirado do meio de uma paisagem gelada, quando se dirigia para um destino desconhecido.

Nunca nos seus vinte e nove anos de vida sentira tanto frio. A primeira vez que fizera alguma coisa impulsivamente, quase congelara.

Uma coisa era certa: o selvagem Wyoming não era um lugar onde se pudesse usar um macacão de seda, sapatos italianos e um casaco fino que mal a protegia da inclemência do tempo. Sim, serviam perfeitamente para uma sala de reuniões em Los Angeles e para desempenhar as suas funções habituais.

Olhou pela janela. Uma nova onda de terror invadiu-a. Não só estava numa situação inesperada, mas também a muitos metros acima do chão. Engoliu o nó que lhe apertava a garganta.

Uma lágrima deslizou pela sua cara. Secou-a rapidamente. Na verdade, achava que já chorara tudo o que tinha que chorar. No entanto, quando o mundo se desfaz em nosso redor, resta sempre uma lágrima cativa que, mais cedo ou mais tarde, acaba por se libertar. Uma parte da sua vida acabara, o que não era nada fácil de aceitar.

Olhou para o homem sentado ao seu lado. Pilotava o helicóptero com destreza.

Acontecera tudo tão depressa que nem sequer tivera tempo de reparar nele. Encontrava-se no meio da estrava a procurar desesperadamente fazer andar o carro que ficara atolado na neve quando, de repente, um estranho a puxou, pô-la ao ombro como se fosse um saco de batatas e meteu-a num helicóptero.

O homem em questão era alto, mas o resto estava escondido sob uns enormes óculos pretos e um blusão de montanha.

– Quem é você? – perguntou-lhe ela, finalmente. – Para onde me leva?

Ele não lhe respondeu. O som do motor transformara as suas palavras num lamento inaudível.

Com certeza, ia levá-la a algum aeroporto pequeno. Lá conseguiria ajuda para recuperar o carro e poderia encontrar um hotel onde passar a noite.

O estranho tinha o cabelo louro e grosso, um pouco comprido, talvez, mas parecia ficar-lhe bem. Os óculos escuros escondiam-lhe os olhos, mas deixavam ver que tinha o rosto bronzeado e mostrava os primeiros sinais do trabalho ao ar livre. Devia ter entre trinta e cinco a trinta e nove anos.

Passados alguns minutos, aterraram num lugar cuja casa, estábulo, curral, celeiro e restantes elementos formavam um rancho.

O homem saiu do aparelho e dirigiu-se a um dos homens que tinham aparecido para o receber.

– Assegura-te de que o helicóptero fica bem coberto e fechado. Vem aí uma tempestade.

– Já estava preocupado contigo, Jace. Receava que a tempestade te apanhasse no meio do nada. O meteorologista disse que os ventos do Árctico vão soprar com força.

– Normalmente, há sempre pequenas tempestades que precedem os grandes nevões. Isto é uma novidade – o estranho dirigiu-se a Samantha: – Venha comigo. Deve estar quase congelada.

Antes que ela pudesse responder, puseram-se a caminho da casa.

Era evidente que aquilo não era um aeroporto. No entanto, ela não se importava. A única coisa que queria era chegar a um lugar quente e seco.

O homem abriu a porta e indicou-lhe que entrasse.

Havia uma grande lareira acesa na sala e Samantha correu para lá. Tirou os sapatos. Estavam estragados e o seu maravilhoso macacão de seda parecia um pijama acabado de sair da máquina de lavar. Sem dúvida, o seu aspecto não era o de uma vencedora.

Enquanto esfregava as mãos, sentiu um arrepio estranho percorrer-lhe a coluna vertebral. Primeiro atribuiu-o ao frio e à humidade da roupa, mas, em seguida, apercebeu-se de que era um arrepio de outra natureza. Podia sentir a presença do estranho, apesar de estar de costas para ele. Virou-se rapidamente e deparou-se com ele ali, junto a si, de pé.

Tirara os óculos e olhava-a com os seus profundos e sagazes olhos cinzentos. Havia qualquer coisa nele que a atraía irremediavelmente.

Devia existir uma explicação racional para aquelas sensações tão confusas. Samantha era uma pessoa lógica.

– Quem é você? Onde é que eu estou? Porque é que me trouxe para aqui? – não pôde evitar que a sua voz reflectisse parte do terror que sentia. – Isto não é um aeroporto.

– Chamo-me Jace Tremayne e este é o meu rancho. A tempestade aproximava-se perigosamente e decidi vir para aqui a toda a velocidade. Não queria ser obrigado a aterrar nos pastos – olhou-a de cima a baixo. – Acho melhor ir tirar essa roupa.

Era uma sugestão lógica, sem dúvida. Mas, embora não soubesse porquê, naquelas circunstâncias pareceu-lhe uma provocação.

Será que ele pensava que ela tirava a roupa assim, sem mais nem menos, diante de qualquer estranho? A troco de quê?

– Como?

– O quarto de hóspedes é ao fundo do corredor. Tem casa de banho privativa – informou-a ele. – É melhor tirar essa roupa, se não quiser ficar doente. Há toalhas limpas no armário.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, indecisa sobre o rumo que a sua vida devia tomar no futuro próximo. Estava no meio de parte nenhuma, ou melhor, no meio de não sabia onde, com alguém, não sabia quem, a sugerir-lhe que se despisse. Por outro lado, tomar um duche quente era a proposta mais aliciante que lhe tinham feito nos últimos dois dias.

No entanto, havia qualquer coisa naquele homem que a inquietava. Não era medo, não. Era mais uma atracção da qual nunca tivera conhecimento e que não podia incluir em nenhum padrão estabelecido.

– É muito amável. Obrigada por me dispensar o quarto de hóspedes.

Após aquela demonstração cortês da sua boa educação, apercebeu-se de que parecia deslocada no meio daquela decoração rústica.

Ele também se apercebera disso. No entanto, fora um pouco mais longe na sua apreciação do conteúdo. Sem dúvida, era um prazer contemplá-la, apesar do seu aspecto afectado e inadequado. Chegou a sentir-se tentado a admitir que era bonita, de uma beleza simples que lhe agradava.

Poderia, inclusivamente, ter admitido que era uma mulher muito desejável. Contudo, só o teria feito se tivesse decidido ser honesto consigo mesmo. Na realidade, não tinha tempo para aquelas coisas.

– O problema é que não tenho nada seco para vestir. A minha mala está no carro – disse-lhe ela, sem saber se devia enfurecer-se por ele a ter tirado daquele atoleiro sem nenhuma explicação ou agradecer-lhe por lhe ter salvo a vida. Tentou a segunda alternativa, mas saiu-lhe a primeira: – Agarrou-me e meteu-me no helicóptero com tanta pressa que nem sequer tive tempo de pegar nas minhas coisas.

– Estava em apuros e a única coisa que eu fiz foi tirá-la deles. Não podia perder tempo a averiguar se a minha ajuda era ou não necessária. Espere aqui – Jace deu meia volta e dirigiu-se a um dos quartos. Passados alguns minutos, voltou com um roupão. – Tome. Isto deve servir até que a sua roupa seque.

Ela aceitou-o, sem dizer nada.

– Tenho muito o que fazer antes da tempestade começar. Mas, quando voltar, gostava que me explicasse que diabo estava a fazer onde a encontrei. Como é que pôde pôr-se a conduzir por uma estrada regional vestida para ir a uma galeria de arte? Será que nem sequer se deu ao trabalho de ouvir as notícias? Ainda bem que eu a vi, caso contrário teria problemas graves.

Aquele ataque inesperado fez aflorar toda a sua ira contida.

– Andava a passear, o que é que acha?

Não era verdade, mas tão-pouco se distanciava muito da realidade. Se um passeio se dava por prazer, não fora propriamente o prazer que a levara a tomar uma atitude tão estúpida. Por outro lado, dada a natureza da sua deambulação, podia incluir-se naquela categoria.

Ele levantou-se, indignado.

– Andava a fazer o quê?

– A passear.

– Mulheres! De todas as coisas estúpidas que uma pessoa tem de enfrentar na vida, esta é, sem dúvida, a maior de todas. Por favor, a próxima vez que se lembrar de fazer uma coisa tão parva, esqueça o conjunto de seda e os sapatos de saltos altos.

Ela sentiu-se indignada.

– Vejo que é um daqueles machistas que acham que as mulheres erram pelo simples facto de não terem de fazer a barba todas as manhãs. Pois fique a saber que o que eu faço com a minha vida não lhe diz respeito. Talvez até estivesse ali, naquela situação, porque queria.

– Pois eu tive a impressão de que o carro estava atolado na neve – sorriu com ironia. – É evidente que interpretei mal os sinais. E, claro, embora pareça, não está gelada até aos ossos.

– Deixe-me em paz! – assim que terminou de falar, apercebeu-se de que exagerara. Soara muito impertinente. Afinal de contas, quisesse ou não reconhecer, aquele rancheiro desagradável e irresistível salvara-lhe a vida. Baixou a vista. – Desculpe. Não sei porque é que disse estas coisas. Suponho que o que aconteceu me tenha deixado nervosa. Não estou habituada a lidar com o caos nem com a desordem. Prefiro planear bem as coisas. Fui visitar um amigo e… bom… as coisas não…

Sentiu outro arrepio na coluna. Jace Tremayne irradiava qualquer coisa que a afectava profundamente. Pelo que vira até àquele momento, tratava-se de um homem dinâmico, um pouco arrogante, mas dinâmico.

Ele também mudou de atitude.

– Se precisar de telefonar a alguém, esteja à vontade. À sua família, a esse tal amigo que foi visitar… ao seu marido.

Dois dias antes, ela teria telefonado a Jerry Kensington.

– Não, não tenho de telefonar a ninguém – tentou não prestar atenção ao desespero que aquela declaração lhe provocara. Levantou a vista e, uma vez mais, sentiu que o olhar masculino parecia prestes a penetrar na sua alma.

Jace apontou para o corredor.

– Segunda porta à direita.

Samantha não lhe respondeu, limitou-se a contemplá-lo enquanto se afastava.

O que é que se passava com ela? Era evidente que nada daquilo fazia parte dos seus planos.

Não importava, do que precisava era de um banho quente que a ajudasse a ver as coisas sob outra perspectiva.

Foi para o quarto, fechou a porta e pôs-se a olhar pela janela durante alguns segundos. Jace ia a caminho do celeiro.

Samantha tinha uma sensação estranha no estômago. Era evidente que aquele homem a salvara de uma situação difícil. Mas será que não a metera numa ainda mais perigosa?

Samantha tinha plena consciência de que os seus pensamentos e sentimentos por ele eram completamente irracionais.

Achava-o irritante. Além disso, ele agia sem fazer planos, guiado pelos seus impulsos. No entanto, havia qualquer coisa nele que lhe provocava uma excitação que nunca experimentara antes. Não que fosse inexperiente, mas a verdade era que Jerry Kensington nunca lhe provocara nada semelhante.

Apesar da atracção que sentia, tinha de admitir que nunca encontrara ninguém que se distanciasse mais do seu ideal de homem: metódico, responsável, profissional, que tivesse uma vida ordenada e, se possível, apontada numa agenda. Até àquele momento, Jace Tremayne não mostrara nenhuma daquelas qualidades.

 

 

Enquanto a sua hóspede se lavava, Jace tinha muitas coisas para resolver. Então, porque é que estava de pé no celeiro, como um tolo, sem mexer um dedo?

Não sabia de onde saíra aquela mulher nem por que razão estava na estrada. Nem sequer sabia como se chamava.

Notara, isso sim, que gostava de discutir e que escondia qualquer coisa.

Vira algo nos olhos dela que o pusera nervoso. Era uma mulher forte, mas perturbava-o. Tinha a desagradável habilidade de acertar onde mais doía. Além disso, para seu espanto, despertara o seu desejo masculino.

Procurou descontrair-se e visualizou mentalmente a imagem da sua mulher. A sua hóspede acusara-o de ser machista, mas a sua esposa fora uma pessoa criativa e independente. Tinham-se conhecido no dia em que ela aparecera à sua porta para lhe pedir informações sobre a sua família. Estava a realizar um estudo sobre a história do Wyoming. Ele respondera-lhe que podia encontrar tudo na biblioteca, mas ela insistira.

A morte dela, num acidente de carro quando estava no terceiro mês de gravidez, fora o maior golpe que sofrera na vida. A partir dali, a sua vida tornara-se vazia. Tinham-se passado quatro anos. Entretanto, ele dedicara-se de corpo e alma ao rancho, para esquecer a dor que o consumia por dentro, proibindo-se tacitamente de sentir.

E, de repente, no meio de uma tempestade, deparara-se com aquela mulher. As circunstâncias eram invulgares, o encontro, abrupto, e a sua relação, difícil. Apesar de tudo, ela acordara a sua libido adormecida. Pela primeira vez em quatro anos, estava a sentir-se fortemente atraído por uma mulher que, por sinal, era completamente inadequada.

Franziu o sobrolho. Ficara triste ao ouvi-la dizer que não tinha ninguém a quem telefonar. Talvez também tivesse sofrido uma grande perda na sua vida.

– O helicóptero já está amarrado.

Jace olhou para o homem que acabara de entrar no celeiro. Era Ben Downey, o capataz do rancho. Jace sentiu-se grato pela sua aparição, pois interrompera uma corrente de pensamentos que estava a levá-lo para um lugar perigoso.

– Obrigado. Agradecia-te que inspeccionasses o celeiro, para veres se está tudo em ordem. Eu vou aos estábulos. Diz a um dos rapazes que vá pôr uma carrada de lenha extra na casa e nos vossos alojamentos. E pede a Vince que dê uma vista de olhos ao gerador de emergência. Podem passar-se muitos dias até a tempestade se afastar. Se for muito forte, é possível que fiquemos sem electricidade, como aconteceu há três anos.

 

 

Samantha saiu do quarto envolta num roupão três números acima do seu tamanho.

Sentia-se melhor, embora não parasse de se repetir que tinha de sair daquele rancho o mais depressa possível, para fazer com que aquele desejo sexual tão inoportuno desaparecesse.

Desatou o nó do cinto e voltou a apertá-lo. Era evidente que o roupão pertencia a uma mulher, mas a uma mulher enorme. Era macio, de turco aveludado, e o toque do tecido no seu corpo mantinha-a consciente da sua nudez.

Seguiu pelo corredor até chegar à sala. Estava descalça, mas a alcatifa era quente e fofa.

Sentou-se ao pé da lareira e pôs-se a pensar.

Era a primeira vez que se descontraía desde que saíra do avião em Denver. De lá, conduzira até à casa do seu noivo. Estivera noiva de Jerry Kensington durante quase um ano, apesar de viverem a muitos quilómetros de distância um do outro. Ela insistira para que o noivado durasse pelo menos dois anos, pois era a única maneira de saber se fizera a escolha certa.

Os últimos meses, porém, tinham sido muito difíceis. Samantha tinha a sensação de que alguma coisa estava mal, mas, por mais curioso que parecesse, não se importava. Contudo, recusara-se a enfrentar a possibilidade de não amar Jerry ou, pelo menos, de não o amar o suficiente.

A sua viagem a Denver fora mais para esclarecer os seus sentimentos do que para ver Jerry. Ele não se cansava de lhe atirar à cara que na sua vida era tudo muito estruturado. Pois bem, decidira fazer-lhe uma surpresa. Imaginara a cara dele quando a visse aparecer sem aviso prévio.

No entanto, a expressão que ele assumira não tivera nada a ver com a que ela imaginara. Na verdade, fora de terror, não de prazer.

Jerry estava despenteado e usava um roupão mal abotoado. Bloqueara-lhe a entrada, mas não pudera impedi-la de ver a mulher que passara em direcção à cozinha, vestida com a sua camisa.

Ele tinha a palavra «culpado» escrita nos olhos, mas a sua consternação devia-se a ter sido apanhado em flagrante, não ao facto de se arrepender dos seus actos.

Samantha dera meia volta e ele nem sequer tentara detê-la.

Nunca na sua vida se sentira tão traída e sozinha.