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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Julia James. Todos os direitos reservados.

DENTRO DE TI, N.º 311 - Agosto 2013

Título original: The Italian’s Rags-to Riches Wife.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2008

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™, Harlequin, logotipo Harlequin e Harlequin Euromance são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3381-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

– O que quer dizer com isso de que vai continuar a ser o presidente?

O seu tom era duro e denotava claramente o seu aborrecimento. No entanto, por respeito ao homem a quem se dirigia, um homem com o dobro da sua idade, Allesandro di Vincenzo exerceu um controlo férreo sobre a sua raiva.

– A situação mudou – disse o outro homem com uma voz sombria. Estava sentado numa poltrona de pele, na biblioteca de uma mansão do século XVIII situada na zona rural romana.

Allesandro susteve a respiração. O seu corpo esbelto estava vestido com um fato feito à medida por um dos estilistas italianos mais elegantes. Levava o cabelo escuro muito bem arranjado, emoldurando um rosto cujos traços eram dignos de uma estrela de cinema. Tinha os olhos escuros e umas pestanas longas, maçãs do rosto bem marcadas, queixo firme e uma boca bem delineada e muito expressiva que, naquele momento, estava séria e tensa.

– Pensei que estava decidido que se demitiria a meu favor...

– Isso foi o que pensaste, Allesandro – disse o outro homem. – Não existe nenhum documento que me comprometa legalmente. Simplesmente pensaste que quando Stefano morresse... – sussurrou. A sua voz falhou durante um instante. Depois recuperou e continuou. – Além disso, como te disse, a situação mudou de uma forma que eu jamais teria imaginado. Eu nunca poderia ter calculado... – murmurou. Tinha um aspecto velho e cansado. Aparentava todos os seus setenta anos.

– O que se passa, Tomaso? O que nunca poderia ter imaginado? – perguntou Allesandro, com impaciência.

– Stefano nunca me contou. Descobri quando tive de examinar todos os seus objectos pessoais. Fiquei profundamente surpreendido com o que encontrei. As cartas têm mais de vinte e cinco anos – disse, depois de uma pequena pausa, como se desejasse reunir forças. – Não sei por que motivo as guardou. Não pode ter sido por motivos sentimentais, porque a última delas diz que não haverá mais, que quem as escreve pensa que Stefano não vai responder. No entanto, seja porque for, estas cartas existem e a sua existência muda tudo.

– Como? – perguntou Allesandro, com um rosto impenetrável.

Sabia que o idoso se mostrava reticente e ele estava a ficar sem paciência. Desde que Stefano, o filho de quarenta e cinco anos de Tomaso e solteiro empedernido morrera num acidente de barco dez meses antes, Allesandro parecia ter sido o escolhido para deixar de ser o director-geral da empresa que o seu falecido pai e Tomaso Viale fundaram juntos e transformar-se no presidente. Dera tempo a Tomaso para superar a sua perda e até aceitara que o idoso permanecesse no cargo para que conseguisse superar a dor da morte do seu filho. No entanto, já esperara o suficiente. Tomaso dera razões mais do que suficientes a Allesandro para pensar que ia retirar-se antes do fim do ano fiscal e entregar-lhe o controlo todo. A frustração apoderou-se dele. Tinha outros lugares muito melhores onde estar, coisas para fazer, planos para levar a cabo. Viajar até à zona rural romana não figurara na sua agenda. De facto, ocorriam-lhe uma dúzia de lugares onde preferia estar naquele momento, a começar pelo apartamento de Delia Dellatore em Roma. Delia, cujos voluptuosos encantos eram exclusivamente seus naquele momento...

Olhou para Tomaso e viu que este envelhecera muito desde a morte do seu filho. Talvez nunca tivesse tido uma boa relação com Stefano, que sempre levara um estilo de vida louco, contudo, a sua morte fora um golpe duro para o seu pai.

– Como, Tomaso? – repetiu Allesandro.

Quando levantou o olhar para olhar para ele, os olhos de Tomaso tinham uma expressão estranha.

– Como sabes, o meu filho recusou-se sempre a casar, preferindo o seu estilo de vida desenfreado. Por isso, tinha poucas esperanças de que o meu apelido continuasse à frente desta empresa. No entanto, estas cartas eram de uma mulher, uma jovem inglesa que implorava a Stefano que fosse vê-la, que pelo menos respondesse às suas cartas. A razão que tinha para as escrever era...

Voltou a fazer uma pausa. Allesandro foi testemunha da emoção que embargava o seu rosto.

– Teve uma filha de Stefano. A minha neta – anunciou, apertando os braços da poltrona com força. – Quero que a encontres e ma tragas cá, Allesandro.

1

 

Laura endireitou os ombros e levantou o carrinho de mão pesado. A montanha de lenha húmida que acabava de apanhar balançou durante um instante, no entanto, não caiu. Pestanejou para sacudir as gotas de chuva das pestanas e começou a andar para a porta que conduzia ao jardim traseiro. Estava completamente encharcada, porém, não se importava. Estava habituada à chuva porque chovia muito naquela parte do país. Quando chegou à superfície asfaltada do jardim, os seus progressos foram mais fáceis. Dirigiu-se com a sua carga para a casa da lenha. A lenha era muito valiosa e ajudava a baixar as dispendiosas contas do gás e da electricidade.

Ela precisava de poupar tudo o que pudesse, não só para as reparações mais essenciais que tinha de realizar na casa, que estava um pouco descuidada já desde quando os seus avós ainda eram vivos, devido à falta de dinheiro, mas também para os impostos que tinha de pagar por Wharton depois de a herdar.

A ansiedade apoderou-se dela. O seu cérebro dizia-lhe que o mais sensato era vender a propriedade, contudo, o seu coração recusava-se a fazê-lo. Não podia fazê-lo. Era a única casa que era capaz de recordar, o seu refúgio do mundo. Os seus avós tinham-na criado ali depois da tragédia lamentável e vergonhosa que acontecera à sua mãe, uma mulher que falecera solteira, deixando para trás uma filha ilegítima, concebida com um homem que se recusara a reconhecê-la.

Como não tinha despesas além da propriedade, a única esperança que Laura tinha de poder ficar com ela era transformá-la numa casa de férias com quartos para alugar, porém, isso requeria uma cozinha nova, casas de banho em todos os quartos, uma nova decoração, imensas reparações... Era tudo demasiado caro.

O pior era que o primeiro pagamento de impostos estava iminente. A única forma que tinha de pagar era vender os últimos quadros e antiguidades da casa. Laura não gostava da ideia de os vender, porém, não tinha outro remédio.

A ansiedade, sua constante companheira, voltou a apoderar-se dela.

Enquanto esvaziava o carrinho de mão, ouviu um carro a aproximar-se da casa. Laura recebia muito poucas visitas. Os seus avós eram pessoas muito reservadas e gostava de continuar assim. Deixou o carrinho de mão e dirigiu-se para a fachada principal da casa. Viu um automóvel reluzente a parar em frente à porta principal. Apesar de ter as laterais sujos de lama, continuava a parecer tão elegante, caro e deslocado como se fosse uma nave espacial. No entanto, ainda mais deslocado era o homem que acabava de sair do veículo. Laura observou-o atentamente, boquiaberta e pestanejando à chuva.

 

 

Allesandro saiu do carro com uma expressão sombria. Era quase impossível conter o seu mau humor. Apesar de ter a ajuda de um GPS, aqueles atalhos serpenteantes e sombrios eram quase impossíveis. Então, quando finalmente conseguira chegar, a casa parecia vazia. A casa tinha um aspecto descuidado e abandonado, tal como o jardim que a rodeava.

Para se proteger da chuva, refugiou-se no alpendre. Estava a chover sem parar desde que aterrara em Exeter e não parecia que fosse parar. Allesandro olhou mais uma vez para a casa e, ao ver o seu estado de abandono, perguntou-se se estava tão vazia como parecia.

O rangido do cascalho fez com que se virasse.

Não. Não estava vazia.

Viu uma figura com umas botas pesadas e coberta com o capuz de um impermeável a aproximar-se. Decidiu que devia ser algum empregado da casa.

– A menina Stowe está? – perguntou.

Laura Stowe. Assim se chamava a filha de Stefano. Segundo a investigação que Allesandro realizara, a sua mãe, Susan Stowe, e Stefano conheceram-se enquanto ela visitava Itália quando estava a estudar Arte. Aparentemente, Susan era uma mulher bonita e ingénua e o que acontecera depois era de esperar. Allesandro também descobrira que Susan Stowe morrera quando a sua filha tinha três anos e que a menina fora criada pelos avós maternos naquela casa.

Pelo menos, a rapariga ficaria contente ao descobrir que tinha um avô muito rico à espera de cuidar dela. Aquele lugar estava quase em ruínas.

Estava de muito mau humor. Não queria estar ali, praticamente como um mensageiro de Tomaso, contudo, este indicara-lhe que, quando tivesse a sua neta a seu lado, se reformaria para poder estar mais tempo com a jovem. Concordava com ele.

– A menina Stowe está em casa? – repetiu com impaciência.

A inescrutável figura falou finalmente.

– Eu sou Laura Stowe. O que deseja?

Allesandro observou-a com incredulidade.

– Você é Laura Stowe? – perguntou.

A expressão que o recém-chegado tinha no rosto tê-la-ia feito rir-se noutra ocasião, no entanto, Laura estava demasiado aflita pela presença daquele homem para que achasse a situação divertida. O que raios estava um homem como aquele a fazer em Wharton, à procura dela? Aquele homem não só estava deslocado ali, como também era muito bonito... Cabelo escuro como a noite, olhos também escuros e um rosto que parecia feito pelo pincel de Miguel Ângelo. A sua pele tinha um bronzeado natural e a sua elegante roupa de marca mostrava que não fora feita em Inglaterra, nem sequer pelo melhor estilista de Savile Row. Era tão estrangeira como aquele desconhecido. Além disso, a sua voz, embora modulada com um inglês perfeito, tinha pronúncia. Italiano. De certeza. Combinava perfeitamente com o seu aspecto. Sem conseguir evitar, um estranho sentimento despertou no seu interior, sentimento que suprimiu imediatamente. Não. Tratava-se apenas de uma coincidência. Mais nada. Apesar de tudo, perguntou-se o que poderia estar um homem como aquele a fazer em frente à porta da sua casa.

– Sim – respondeu, secamente. – Sou Laura Stowe. Você é...?

Esperou pacientemente, porém, o homem continuou a olhar para ela sem se incomodar em ocultar a expressão que tinha nos olhos. Expressava muito mais do que surpresa. Laura conhecia perfeitamente aquele olhar. Vira-a nos olhos dos homens que a observaram toda a sua vida. Aquele olhar dizia que, para eles, não era uma mulher.

Esse facto fora um alívio para os seus avós, dado que o que mais tinham temido era que o destino da sua filha se repetisse na sua neta. Os seus avós nunca conseguiram superar a vergonha de que a sua filha fosse mãe solteira nem o estigma da ilegitimidade da sua neta. Apesar de a amarem muito, Laura sabia que os seus avós nunca conseguiram assimilá-lo. Por isso, Wharton era um lugar muito apropriado para se esconder do mundo. No entanto, o facto de que alguém tivesse conseguido encontrá-la ali inquietava-a, alguém cuja nacionalidade era muito pouco bem-vinda ali.

Tinha de ser uma coincidência. Apesar de tudo, estava decidida a descobrir o que estava aquele homem a fazer ali.

– Talvez não me tenha ouvido. Sou Laura Stowe. O que deseja? – repetiu com um tom cortante.

O homem voltou a olhar para ela. Viu a expressão a que estava habituada, no entanto, daquela vez, havia mais alguma coisa. A inquietação apoderou-se dela. O que se passava? Quem era aquele homem e porque estava ali?

– Se não me disser o que quer, tenho de lhe pedir que saia da minha propriedade.

Viu a raiva reflectida nos olhos do desconhecido. Evidentemente, não gostava que lhe falassem daquela forma. Os seus lábios ficaram tensos.

– Tenho um assunto de grande importância para falar consigo – disse. – Talvez tenha a cortesia de abrir a porta para que possamos falar dentro de casa.

As dúvidas de Laura foram mais do que óbvias. Nos olhos escuros do desconhecido viu um gesto brincalhão.

– Garanto-lhe que está a salvo comigo, signorina.

Laura corou ligeiramente ao ouvir aquelas palavras. Não precisava de ironias para compreender que nenhum homem tentaria seduzi-la.

– A porta está fechada à chave. Espere aqui.

Allesandro observou como ela dava a volta à casa e desaparecia. Meu Deus! Aquela mulher era um despropósito! Como conseguira Stefano ter uma filha assim? Era um homem muito bonito e nunca teria seduzido a mãe daquela rapariga se ela não tivesse sido bonita. Para onde tinha ido parar todo aquele legado genético?

Depois do que pareceu uma espera interminável, a porta abriu-se e Allesandro conseguiu entrar no interior da casa. Sentiu imediatamente o cheiro a humidade e a escuridão que o rodeava.

– Por aqui – disse a rapariga.

Ainda usava as suas calças de bombazina horríveis, e, apesar de ter tirado o casaco, não melhorara a sua aparência. Vestira uma camisola feita à mão enorme, com um buraco num cotovelo e umas mangas compridíssimas. O seu cabelo era indescritível. Uma cabeleira murcha, apanhada num rabo-de-cavalo mal feito.

Ela conduziu-o à cozinha, decorada ao estilo antigo e que estava aquecida por uma lareira também muito antiga.

– Bom, quem é você e o que quer?

Allesandro sentou-se e examinou-a novamente.

– É Laura Stowe?

– Já lhe disse que sim – respondeu com hostilidade. – E você é...?

Allesandro observou-a durante um instante. Aquela rapariga não era apenas do campo, era também muito feia. Por muito duro que pudesse ser, não havia outra palavra que pudesse descrever o seu aspecto. Tinha o rosto muito quadrado, olhos cobertos por sobrancelhas castanhas espessas e uma expressão de amargura no rosto.

– O meu nome é Allesandro di Vincenzo. Estou aqui em nome do signor Viale.

Ao ouvir o nome do seu avô, a expressão da rapariga mudou ligeiramente, tornando-se ainda mais dura e severa do que antes.

– Conhece-o? – perguntou Allesandro, surpreendido.

– Conheço perfeitamente o apelido Viale – disse com dureza. – Porque veio aqui?

– O signor Viale acaba de saber da sua existência – disse com um certo tom de reprovação.

– Isso é mentira! – exclamou a rapariga. – O meu pai sempre soube que eu existia!

– Eu não me referia ao seu pai, mas ao seu avô. Ele acaba de descobrir que tem uma neta.

– Ainda bem para ele. Agora, se é só isso, pode ir-se embora.

– Não penso fazê-lo – disse Allesandro, com uma expressão dura no rosto. – Vim para a informar de que o seu avô, Tomaso Viale, deseja que vá a Itália.

– Deseja que eu vá a Itália? Está louco?

– Menina Stowe – disse Allesandro, tentando controlar-se perante a atitude da rapariga, – o seu avô é um idoso muito frágil. A morte do seu filho foi um duro golpe para ele e...

– Está a dizer que o meu pai morreu?

– Sim. Faleceu num acidente de barco no Verão passado.

– No Verão passado – repetiu. – Está morto há tanto tempo... – acrescentou. Depois de uns instantes, a expressão de ressentimento voltou a reflectir-se no seu rosto. – Perdeu o seu tempo vindo até aqui, senhor di Vincenzo. É melhor ir-se embora.

– Isso não é possível. O seu avô deseja que me acompanhe a Itália.

– Não penso fazê-lo. O meu pai tratou a minha mãe de uma forma imperdoável. Não desejo ter nada a ver com essa família!

– Talvez não compreenda que o seu avô é um homem muito rico. Um dos mais ricos de Itália. Aceder aos seus desejos seria muito benéfico para si, menina Stowe.

– Espero que se engasgue com todas as suas riquezas! – exclamou, apoiando-se na mesa. – Diga-lhe que, no que me diz respeito, não tem nenhuma neta. Tal como o seu filho nunca teve nenhuma filha!

– Tomaso não é responsável pelo que o seu filho lhe fez...

– Nesse caso, é óbvio que a educação que lhe deu foi péssima. Disso foi responsável e falhou miseravelmente na hora de o educar como deve de ser. O filho dele era um ser desprezível... Porque ia eu perder tempo com um homem como este?

Allesandro levantou-se. O movimento repentino fez com que a cadeira se arrastasse violentamente pelo chão.

– Basta! Efectivamente, é melhor que não vá visitar o seu avô, dado que seria uma desilusão enorme para ele. Infelizmente, agora tenho o dever de dizer a um homem idoso e doente, que sofre a morte trágica do seu filho único, que o seu único parente vivo é uma jovenzinha mal-educada e pouco atenciosa que está disposta a culpá-lo de tudo sem sequer conhecê-lo. Que tenha um bom dia.

Sem mais, o italiano saiu da cozinha e da casa. Poucos segundos depois, Laura ouviu o motor do seu carro a trabalhar e este a afastar-se.

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Estava morto...

Nunca esperara, nem desejara, que algum dia pudesse conhecê-lo, contudo, saber do seu falecimento tão de repente emocionara-a profundamente.

«O meu pai morreu. Nunca poderei conhecê-lo... Sempre me rejeitou, ao ponto de ignorar a minha existência. Nunca se importou comigo. Não era mais do que um playboy egoísta e mimado, habituado a utilizar as mulheres como se fossem brinquedos e a levar a sua avante pelo simples facto de ser bonito e rico... Como o homem que enviaram aqui».

Contrariada, olhou para o lugar onde o seu inesperado visitante estivera sentado e a expressão do seu rosto tornou-se ainda mais amarga. Então, voltou a endireitar os ombros. Tinha muito trabalho para fazer. Levantou-se e voltou para o exterior para ir buscar outro carregamento de lenha.

 

 

Allesandro sentou-se na poltrona cómoda com uma certa sensação de alívio e olhou à sua volta. Estava na sala quente e elegante da sua suíte do Lindford House Hotel, que o seu assistente pessoal lhe reservara antes de sair de Roma. Era assim que devia ser uma casa de campo em Inglaterra, não como o barracão em que Laura Stowe vivia!

Bebeu um gole do seu martini e decidiu que a rapariga não tinha nada de bom. Nem de aspecto nem de personalidade. Ficara muito zangado pela forma como Tomaso o manipulara, no entanto, naquele momento só conseguia ter pena dele pela neta que tinha. A desilusão do idoso seria enorme.

Noutras circunstâncias, teria tido pena daquela rapariga pela sua falta de beleza, contudo, as suas maneiras e a sua personalidade tinham sido muito desagradáveis.

Com um gesto impaciente, pegou no menu para decidir o que ia jantar. A neta desagradável de Tomaso já não era responsabilidade sua. Fizera o que Tomaso lhe pedira. Se ela se recusava a acompanhá-lo a Itália, o problema já não era dele.

 

 

Infelizmente, quando Allesandro regressou a Itália, verificou que Tomaso não partilhava da sua opinião.

– Fez o quê? – perguntou Allesandro com incredulidade, dois dias mais tarde.

A pergunta era retórica. Tinha a resposta à frente dos seus olhos, no relatório que o seu assistente pessoal lhe entregara. Estava assinado pelo presidente da Viale-Vincenzo e informava-o de que já não era necessário que continuasse a prestar os seus serviços como director-geral.

A raiva apoderou-se dele, porém, compreendeu perfeitamente a razão que havia por detrás de tudo aquilo. Tomaso não aceitara que Laura Stowe se tivesse recusado a visitá-lo. Allesandro dissera ao idoso que a rapariga se mostrara muito hostil. Naquele momento, desejou ter sido menos sensível aos sentimentos de Tomaso.

– Telefona a Tomaso – ordenou. – Agora mesmo!