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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2018 Kate Hewitt

© 2021 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Mais do que um filho secreto, n.º 1845 - janeiro 2021

Título original: The Secret Kept from the Italian

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1375-245-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

O trigésimo segundo andar do edifício de escritórios estava completamente às escuras enquanto Maisie Dobson empurrava o carrinho de limpeza pelo corredor e o barulho das rodas era o único som no edifício fantasmagórico. Depois de seis meses a trabalhar nas limpezas, devia estar habituada, mas continuava a assustá-la um pouco. Embora houvesse uma dúzia de empregadas no edifício, cada uma trabalhava num dos andares, com todos os escritórios silenciosos e escuros e as luzes de Manhattan a entrar pelas janelas.

Eram duas da manhã e estava muito cansada. Tinha uma aula de violino às nove da manhã e receava adormecer. Esse sempre fora o seu sonho, a Escola de Música, não ser empregada de limpeza. Contudo, para conseguir o segundo precisava do primeiro e não se importava. Estava habituada a trabalhar muito para conseguir o que queria.

Parou ao ver luz num escritório ao fundo do corredor. Alguém deixara a luz acesa, pensou. E, no entanto, sentiu uma certa inquietação. Às onze, quando chegava a equipa de limpeza, o arranha-céus de Manhattan estava sempre completamente às escuras. Maisie, nervosa, continuou a empurrar o carrinho. O barulho das rodas era muito alto no corredor silencioso.

«Não sejas tão covarde», repreendeu-se. «Não tens nada a recear. É apenas uma luz acesa, mais nada.»

Parou o carrinho à frente da porta e, depois, respirando fundo, espreitou para o escritório… e viu um homem.

Maisie ficou imóvel. Não era o executivo típico e gordo que ficara a trabalhar mais algumas horas. Não, aquele homem era… A sua mente começou a dar voltas, tentando encontrar as palavras para o descrever. Certamente, era muito bonito. O cabelo escuro caía por cima da testa e das sobrancelhas arqueadas. Tinha um ar contrariado, enquanto olhava para o copo meio vazio de uísque que pendia dos seus dedos compridos.

Não usava gravata e os dois primeiros botões da sua camisa estavam desabotoados, deixando ver um peito moreno. Exsudava carisma e poder, tanto que Maisie dera um passo em frente sem se aperceber.

Então, ele levantou o olhar e uns olhos azuis penetrantes deixaram-na colada ao chão.

– Ena, olá – murmurou, esboçando um sorriso frio. A sua voz era baixa e rouca, com um pouco de sotaque. – Como está nesta noite tão agradável?

Maisie ter-se-ia sentido alarmada, até assustada, mas, nesse momento, viu um brilho de angústia nos seus olhos, nas linhas duras do seu rosto.

– Estou bem – respondeu, olhando para a garrafa de uísque quase vazia que estava na secretária. – Mas acho que a questão é como está o senhor.

O homem inclinou a cabeça para um lado, com o copo prestes a escorregar dos seus dedos.

– Como estou? É uma boa pergunta. Sim, uma pergunta muito boa.

– Ah, sim?

A intensidade da sua angústia fez com que Maisie sentisse um aperto no coração. Sempre tivera muito amor para dar e poucas pessoas a quem o dar. O irmão, Max, fora o principal recetor, mas, agora, era independente e queria viver a sua vida. E isso era bom. É claro que sim. Tinha de o repetir todos os dias.

– É, sim – confirmou o homem, endireitando-se um pouco. – Porque devia estar bem, não é? Devia estar lindamente.

Maisie cruzou os braços.

– E porque devia estar bem? – perguntou, intrigada.

Quem era aquele homem? Há seis meses que limpava o escritório e nunca o vira. Claro que não vira muitos dos empregados porque chegava tarde. No entanto, tinha a sensação de que aquele escritório, pequeno, num andar médio de um edifício anónimo, não era o seu lugar. Parecia… diferente, demasiado poderoso e carismático. Até bêbado, era encantador e atraente. Mas, para além da sensualidade, aquele homem mostrava uma dor que a fez recordar a dela, a sua própria tristeza.

– Porque devia estar lindamente? – O homem arqueou uma sobrancelha escura. – Por muitas razões. Sou rico, poderoso, no topo da minha carreira e posso ter qualquer mulher. Tenho casas em Milão, Londres e Creta. E um iate de doze metros de comprimento, um avião privado… – Levantou a cabeça para olhar para ela com aqueles olhos azuis trocistas. – Quer que continue?

– Não – respondeu Maisie, intimidada com a lista impressionante. Aquele não era o seu lugar, pensou. Devia estar no último andar, com o presidente e os vice-presidentes da empresa, ou ter um andar só para ele. Quem seria, questionou-se. – Mas vivi o suficiente para saber que essas coisas não dão felicidade.

– Viveste o suficiente? – repetiu ele, olhando para ela com interesse. – Pareces uma estudante.

– Tenho vinte e quatro anos – disse Maisie, com um ar digno. – E sou uma estudante. Limpo escritórios para pagar os estudos.

– É de noite, não é? – murmurou o desconhecido, virando-se para olhar para as luzes do edifício Chrysler. – Uma noite escura e fria.

Maisie sentiu uma certa apreensão. Sabia que não estava a falar do tempo.

– Porque está aqui, a beber sozinho num edifício vazio?

Ele continuou a olhar para o céu escuro durante uns segundos e, depois, virou-se para ela com um sorriso nos lábios.

– Mas o edifício não está vazio. Porque haveria de beber sozinho? – perguntou, pousando o copo na secretária e empurrando-o para ela.

– Não posso – disse Maisie, dando um passo atrás. – Estou a trabalhar.

– A trabalhar?

– Limpo estes escritórios. Este é o último escritório do andar.

– E já quase acabaste.

Era verdade, mas não importava. Eram quase três da madrugada e tinha aulas no dia seguinte.

– Mesmo assim, não posso beber álcool. E devia continuar a limpar…

Ele apontou à volta: Uma secretária, algumas cadeiras e um sofá de pele apoiado contra a parede.

– Não acho que haja muito para limpar.

– Tenho de esvaziar o caixote do lixo, aspirar…

Por alguma razão estranha, Maisie ficou corada.

– Então, deixe-me ajudar – ofereceu-se o desconhecido. – E, depois, beberemos um copo.

– Não, eu…

– Porquê?

O homem levantou-se da cadeira com um equilíbrio surpreendente, considerando que devia ter bebido quase toda a garrafa de uísque, e tirou do carrinho um pano e uma embalagem de detergente. Depois, afastou os papéis da secretária e começou a limpar enquanto Maisie o observava, atónita. Nunca acontecera uma coisa dessas. Nunca encontrara um empregado que trabalhava até muito tarde. Em geral, deixavam-na limpar enquanto continuavam a trabalhar, suspirando de vez em quando para deixar claro que era um incómodo.

O homem acabara de limpar a secretária e estava a limpar a mesa de café que havia à frente do sofá.

– Não vai ajudar-me? Estou a começar a pensar que é uma preguiçosa – brincou.

– Quem é? – perguntou ela.

– Antonio Rossi – respondeu ele, pegando no caixote do lixo e esvaziando-o no caixote do carrinho. – E quem é a senhora?

– Maisie.

– É um prazer conhecê-la, Maisie – declarou, apontando para o aspirador. – Só falta aspirar e, depois, poderemos beber um copo.

 

 

Era linda, pensou Antonio. Maisie, dissera que se chamava. Parecia surpreendida com a sua atitude e ele também estava um pouco surpreendido.

Gostava de Maisie, com os seus caracóis ruivos, os seus olhos verdes grandes e essa figura voluptuosa parcialmente escondida por baixo da bata azul do uniforme. Queria beber um copo com ela. Precisava de esquecer e, com os anos, descobrira que o álcool era a melhor forma de o fazer. O álcool ou o sexo.

Antonio, impaciente, tirou-lhe a aspirador da mão e ela deu um salto. Os seus caracóis saltaram à volta do rosto bonito e ovalado. Tinha sardas no nariz, como um pó dourado.

– Eu faço-o – disse. E começou a aspirar o escritório. O barulho quebrava o silêncio, que se tornou ensurdecedor quando o desligou.

Maisie observava-o, perplexa, e ele não estava suficientemente bêbado para não se sentir culpado por seduzir uma empregada num edifício vazio a meio da noite. Mas ela aceitaria ou ir-se-ia embora, de modo que não tinha de se sentir culpado. Já tinha pecados suficientes para expiar.

Além disso, talvez não levasse a sua avante. Talvez ela fosse casada ou tivesse namorado. Embora achasse que não estava a imaginar a faísca que vira nos seus olhos. Só para pôr essa teoria à prova, tocou nos seus dedos enquanto arrumava o aspirador e viu que as suas pupilas se dilatavam. Sim, a faísca estava lá. Definitivamente, estava lá.

– Bom, então, bebemos esse copo?

– Não devia…

Antonio tirou outro copo da gaveta da secretária e serviu uma dose generosa de uísque.

– «Não devia» é uma expressão tão aborrecida, não acha? Não devíamos deixar que um «não devia» decidisse as nossas vidas.

– Isso não é uma contradição?

Ele riu-se, adorando o seu engenho.

– Exatamente – confirmou, enquanto lhe oferecia o copo. Ela aceitou-o, sem parar de olhar para os olhos dele.

– Porque está aqui?

– Não sei a que se refere. – Antonio bebeu um gole de uísque, desfrutando do ardor do álcool na garganta, um consolo bem-vindo.

– Neste edifício vazio, a estas horas e a beber sozinho.

– Estava a trabalhar.

Até as lembranças amargas começarem a embargá-lo, como acontecia naquele dia todos os anos. E em muitos outros dias se ele o permitisse.

– Trabalha aqui? – perguntou ela, incrédula.

– Não de forma habitual. Contrataram-me para me encarregar de uma certa operação.

– Que tipo de operação?

Ele hesitou porque, embora a aquisição fosse de conhecimento geral, não queria inspirar rumores. Porém, então, decidiu que Maisie, certamente, não conhecia nenhum dos empregados, de modo que era inofensiva.

– Dedico-me a avaliar os riscos de uma aquisição e tento minimizar as perdas e os danos durante a mudança de poder.

– Esta empresa foi adquirida por outra?

– É verdade. Conhece alguém que trabalhe aqui?

– Só as empregadas da limpeza. Os nossos postos de trabalho estão em perigo? – perguntou ela, sem conseguir disfarçar o seu medo.

– Não, não me parece. Seja quem for o proprietário, terá de limpar os escritórios.

– Ah… – murmurou ela, deixando escapar um suspiro de alívio. – Ainda bem.

– Brindamos a isso? – sugeriu Antonio. – Os vossos são dos poucos empregos que não se verão afetados pelas mudanças.

– Ena, é uma pena.

– Mas não para ti.

– Não, não.

Ele levantou o seu copo.

Tchim-tchim.

Maisie bebeu um gole de uísque, fazendo uma careta quando o álcool potente lhe queimou a garganta.

– O que significa isso?

– É um brinde italiano.

– Ah… É italiano?

– É verdade.

– O uísque é muito forte, não estou habituada.

– Ena, agora, sinto-me culpado…

Antonio não acabou a frase. «Culpado.» Sentia-se culpado por tantas coisas… Coisas que não podia mudar. Coisas que nunca esqueceria.

– Nunca estive em Itália. É bonita?

– Algumas cidades são lindas.

Maisie bebeu outro gole de uísque.

– Sabe a fogo.

– E queima como o fogo. – Antonio bebeu o resto do uísque, saboreando o ardor e desejando o esquecimento. Se fechasse os olhos, via o rosto do irmão, o seu sorriso, os seus olhos brilhantes, tão jovem e despreocupado. Mas, se os mantivesse fechados, esse rosto mudaria, tornar-se-ia apagado e pálido. Veria o pavimento vermelho de sangue por baixo da sua cabeça, embora nunca tivesse visto o irmão assim. Nunca tivera oportunidade.

Era por isso que precisava de continuar a beber. Para poder fechar os olhos.

– Porque está aqui? – insistiu Maisie, olhando para ele com uma expressão incerta. – Tinha um aspeto tão triste… tão triste como eu me senti muitas vezes.

Essa admissão surpreendeu-o.

– Porque se sentia triste?

Maisie fez uma careta.

– Os meus pais morreram quando eu tinha dezanove anos. Quando o vi, pensei nisso. Parecia… enfim, parecia tão triste como eu me senti nessa altura. Às vezes, continuo a sentir-me assim.

A sua sinceridade surpreendeu-o. Mais do que isso, essa verdade sem enfeites deixou-o sem fala. Finalmente, encontrou as palavras, mas não eram as que esperava.

– Porque eu também perdi alguém e estava a pensar nele esta noite.

O que estava a fazer? Nunca falava de Paolo com ninguém e muito menos com uma desconhecida. Tentava não pensar nele, mas fazia-o sempre. Paolo estava sempre na sua mente e na sua alma. Perseguindo-o, acusando-o. Fazendo-o recordar.

– Quem perdeu? – perguntou ela, com um brilho de compaixão nos olhos.

Era tão encantadora… O cabelo ruivo emoldurava um rosto ovalado de expressão aberta e acolhedora e os lábios suculentos eram tão tentadores… Queria abraçá-la, mas mais do que isso, queria falar com ela. Queria contar-lhe a verdade ou, pelo menos, a parte da verdade que podia revelar.

– O meu irmão – esclareceu, em voz baixa. – O meu irmão mais novo.